domingo, 13 de novembro de 2011

Mistério

Eu não quero a certeza das coisas
Quero saber que,
No final,
Tudo vai acontecer
Quero o suspense de ir dormir 
Na insegurança do amanhã
Quero poder fechar os olhos
E achar que não tem saída
Quero a emoção de nada saber,
De nada ter certeza,
De viver nas dúvidas.
Quero saber que o futuro 
É um mar escuro,
Onde mergulho sem medo de não ver nada.
Quero saber que, 
Por mais certo que seja,
Nada é certo,
Tudo tem um quê de dúvida
Quero saber que no final,
Tudo vai acontecer


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sentimentalismo

Amor é poema escrito em gestos
É solidão sem sofrimento
É verso escrito em frente
É prefixo de quase todas as palavras
É mala pronta pra partir
E pronta para voltar

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mudança

Se acaso não souber
O que o amanhã espera,
Espera no amanhã
E, um dia, crescerá, se quiser

Se, no instante, não houver
A cura para as dores
Faça das dores a cura
E um dia crescerá, se quiser

E, caso não veja luz,
E encontre nas certeza, dúvidas
Faça das dúvidas suas certezas
E um dia, crescerá, se quiser

Porém, se não souber amar
E não houver alegria, só tristeza
Faça na tristeza a sua alegria
E um dia crescerá
Se quiser

Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Problema Principal

      Foi só olhar pela fresta da porta e ver aquilo que eu nunca tinha reparado. Estava na aula de matemática, com sono, daquele jeito que, qualquer coisa, por mais minúscula que seja, te rouba a atenção. O problema que mais atrapalha é que a mesa em que sento fica colada na porta, quase do lado da maçaneta, e a porta abre de forma que quando aberta, me da uma visão completa do corredor principal do primeiro andar, onde passam todos os alunos para fazer qualquer coisa pela escola.
     Acontece que a maçaneta está com defeito, e a porta não fecha por completo, deixando uma razoável fresta para eu obrservar, enquanto aluno que as vezes se destrai, as bizarrices que a minha escola, como qualquer outra, me oferece.
      Já vi de tudo: tombos, choros, consolos, sermãos, a mais vasta gama de experiências visuais. Houve certo dia- hoje mais cedo- que em mais um de meus devaneios, olhei pela bendita fresta. O que eu vi, não foi uma cena agradável aos olhos comuns. Seria um tanto repugnante. Um menino cadeirante, com a sindrome de... Girando em sua cadeira de roda. Sua síndrome é de modo que seus braços tão deformados, torpes, voltados para fora, parecem estar sempre acenando. Podia ver o sorriso em seu rosto, tambem e não menos deformado, que era como se ele estivesse no paraíso, naqueles momentos em que rodava, rodava e rodava. 
     Não sorria menos o homem que girava o menino, em duas rodas traseiras da cadeira de rodas, que aos meus olhos, parecia ser para eles a maior roda-gigante do mundo. E eles riam inconsequentemente, no que parecia ser um momento de puro êxtase, de exaltação a vida. Porque para o menino, estar vivo era o motivo de viver, e nada mais, apenas a vida bastava a ele. Nem carros, dinheiro, ou brinquedo algum o faria sentir-se mais feliz do que as voltas tontas que dava incessantemente em sua cadeira de rodas.
      E riam-se sem parar, a causar-me inveja de tal alegria. Quantas vezes eu me pego triste, abatido por não ter ganho aquele tênis que eu queria, por não ter ido na festa de fulano, não ter conseguido tal coisa, e o menino, sorria. Ele sorria de felicidade por estar ali. Quantas vezes você fica triste por pequenas coisas fúteis, enquanto está sempre cercado de motivos para ser alegre? Isso me faz perceber que, na verdade, os doentes somos nós.

Rodrigo Aylmer

Senhora

Me leva embora daqui
Cansa tanto apelo à vida
Quero poder viver sem hora

O silêncio me faz sorrir
É quando lembro de você
Senhora

Some, nos deixe com saudade, 
A sua marca registrada
Mas é que eu sei que não volta mais

Senhora, que fala a verdade
A sua lembrança eternizada
No tempo não se volta atrás

Ah, se tudo o que fosse bom
Fosse pra sempre...

Durma em paz, senhora


Rodrigo Aylmer

Talvez

Talvez, visão inalcançada
De algo que não foi, 
E não é
Talvez, que muda uma verdade
Uma mudança mudada

Talvez um beijo salvasse o amor
Talvez um sorriso mudasse a amizade
Talvez um dia a mais fizesse sorrir
Talvez que por sua vez, não foi

E não sendo, por vez cria
Um novo ser, nova tez
Por vez, é, não sendo
De modo que é tal,
E é vez

Rodrigo Aylmer

Ponto certo

O pedreiro açanhado olha para a mulher,
E começa a se entorpecer

O bêbado errado olha para o uísque,
E começa a beber

O velho inconformado olha para trás,
E começa a reviver

O homem apaixonado olha para o papel,
 para a caneta,
E começa a escrever

Rodrigo Aylmer

Os Ipês Amarelos

      No final de setembro, ameaçando ser outubro, os pássaros cantam, o sol sorri e abrange todos com seu carisma, essa história de sempre. Mas de nada é útil comentar sobre aquilo ordinário, e clichê. A questão agora são os ipês amarelos.
      Nem outubro é, e eles já estão enormes, viçosos e amarelos... Que vaidade! Difícil é você olhar para um monte e não ver ao mínimo um borrão amarelo, relevante que é. E, precoces, eles já estão vividos e amarelos.
      Mas porque eles são sempre os primeiros a se amarelarem? A tomarem cor? Devem estar inspirados, devem ser guiados pelo sol, e, por inveja, esforçaram-se para estarem parecidos com o grande astro, na época do ano em que mais esbanja seu explendor.
      Posso dizer que a unica difenrença entre o sol e os ipês amarelos é que quando anoitece, o sol morre no horizonte, junto com toda a luz que ele nos empresta.                  
      Porém à noite, essas belas e amarelas árvores, não perdem seu vigor, e sim passam a ser os grandes atros da noite, brilhando a luz que o sol levou consigo. Não há nada mais belo do que ver um ipê amarelo a noite.

Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A língua

Estranha espada sem gume
Pequena lança sem ponta
Peça que constrói e desmonta
Monte alto e sem cume

A mesma carne que cortas, costura
A mesma dor que odeias, maquina
Porque mesmo sendo amarga, és cura
E mesmo sendo torpe, és vacina

Sorte, no entanto, que não és paralela
Para que de ti dissessem uma verdade só
De tal forma que, sem valor, torna-te pó
E, com ele, torna-te bela

Sei que és muitas, verbo
Tantas faces que tens na língua
Brilha como a luz

Porém, sendo humilde servo,
Sua verdade me mingua,
E sua relutância, me seduz


Rodrigo Aylmer

Amor

O amor é como um rio
Que vai descendo pela foz
E quando ele deságua em nós,
Vive-se um eterno arrepio

Ventana

O vento é cego,
Surdo,
Mudo,
Semi-inútil.
Como ele,
Apenas nós mesmos

Temporal

O tempo eu não vi
Ele passa alado
Só por dele ter falado,
Já o perdi...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Atriz Principal

A noite,
Passando, 
Disputando com um lindo crepúsculo, 
vendo quem tem mais casais românticos
Disse "adeus" ao sol 
E ele indo, de fininho,
Deixando seu rastro rosado no infinito, 
Delicado, quase inesquecível,
Perfeito aos olhos que amam ao fim de tarde
E vem a calada,
Muda, cega, surda,
Fotofobíaca, quase
Fria e precisa,
Calculista e amável,
Doce e imprudente,
Gelando o ar,
Aquecendo os corações
Dos casais,
Que se aquecem com um beijo caloroso
Se perdem ali mesmo, no farol
Com um pedido, que passa pelo céu
"que não acabe mais" 
Com o gostinho do eterno
Amor,
Aquecendo os corações
Dos faróis acesos
Em meio à calada
Ganhou a lua,
A mais quieta,
Os casais românticos
Das noites serenas
Onde ela é a atriz principal


Rodrigo Aylmer

Liberdade Póstuma

O choro em sua voz roída
Como se estivesse em uma corda, bamba,
Como se fosse uma criança de idade

As lágrimas escorridas
Suicidando-se pelo seu rosto,
Bambo,
Como se fossem de verdade

Os sorrisos de despedida
Afogando- se no mar defunto,
Trampo,
Choro de pura falsidade

O fim de mais uma vida
Chorando-o sem parar,
Tanto,
Como choro de liberdade


Rodrigo Aylmer

Cria

Como faz falta o tempo passado
Quando o mundo era um carrosel
Todo tudo era tão simples, 
E feliz...

Quando tudo o que eu sempre quis
Era ser astronauta,
Ou cientista,
Ou que nem meu pai

E o sol ria como a criança que era
As nuvens brincavam de pega-pega no céu
E a lua, a lua era um sorriso deitado
Eu virava a cabeça para vê-la sorrir

Nesses dias onde a paz era vista em cada esquina
E o amor era de graça, 
Viveu uma criança,
Que sente falta do tempo passado,
Mas sabe que o tempo passado,
Nao foi perdido

Rodrigo Aylmer

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eternamente na manhã seguinte

      Felipe estava intrigado. A maior dúvida de sua longa vida, de doze anos. Não sabia o que fazer, estava entrando em colapso. Resolveu perguntar pro pai:
- pai, o que que é o amor?
      Pelo amor de Deus, pensou o pai, esse menino só me pergunta coisa difícil. Semana passada, quando ele me perguntou o que que era "gozo", eu quase surtei. Imagine como é dificil explicar para uma criança o que que é gozo? Quase impossível.
- pai, ta demorando pra responder... 
      Ah, filho, o amor é forte, algo que quando vem, nao dá pra segurar, disse o pai.
- Então quer dizer que se eu comer bem e ficar forte, quer dizer que eu vou virar amor? Que esquisito!!!
      Caramba, pensou Otávio, esse menino é esperto. Desisto. Vou ser sincero.
      Filho, papai vai te explicar o que é o amor. É assim: os sentimentos são nomes que damos para as reações do nosso corpo à situações do dia-a-dia... E Otávio continuou falando disso, dizendo que o amor era o mais forte dos sentimentos, que era vivo e dominava a gente. Disse também que tinham tipos de amores diferentes. 
- tem o amor que papai sente por você e o amor que um dia voce vai sentir por uma menina.
      Pronto. Estava quebrado. Como que o pai descobrira que estava apaixonado? Ou gostando. Ou sei lá, era uma criança não sabia dizer. Só sabia que tinha uma menina que mexia com ele, lá no fundo, onde ninguém pode chegar. Se entregou.
- ta bom pai, to cansado, vou dormir. Depois a gente fala sobre isso. Boa noite.
      Não podia ter sido assim. Tem alguma coisa errada. Ele nunca fez isso antes. Fazia no mínimo dez perguntas antes de ir, e sete e meia nunca deitou. Adorava brincar de lego antes de dormir as nove e quarenta. Vou deixar passar, amanha tenho relatorio de dados para entregar, pensou Otávio. E foi.
      Enquanto seu pai estava em paz,  Felipe se remexia no seu quarto, todo decorado do sistema solar. Tinha até estrela que brilhava no escuro. Deitado de bruço na cama, olhando para o fundo da parede azul marinho, não parava de pensar.O que será que é? Acho que eu tô amando. Ou não, deve ser só um olhar diferente, só isso. Mas eu me sinto tão bem com ela... Deve ser. Estou amando. 
      Aquela conversa com o pai o deixara confuso. Aliás, sempre o deixava confuso. Aquela vez que perguntara o que era "gozo" e o pai falou que era sinônimo de desfrutar, como alegria, não tinha nada a ver com o que tinham dito a ele. Mas não importava. Só sabia que no dia seguinte ainda tinha aula, e de educação física. Ia chamá-la para dançar no arraiá. Estava decidido. E estava confuso. Não podia dizer se era amor. Pensou num canto distante da mente em lhe roubar um beijo na bochecha, mas logo esqueceu a idéia ridícula. Não pensava mais nada. Só queria dormir, porque tinha a certeza que ia vê-la na manha seguinte. E queria que a manhã seguinte durasse eternamente


Rodrigo Aylmer

Atualmente

Agora,
Nesse dia,
Nesse instante,
Constante agonia,
Secante alegria,
Berrante terapia,
Sempre, entre
Na mente,
Na gente
Se perde,
A cada instante.
Olha o livro
Através da lente
Pare.
E pense:
Não existe atualmente

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai-xão

E é uma,
Veio dois,
São três!
Três, 
Os quais são seus pequenos
Sempre, mesmo se crescerem,
Mesmo se mudarem, e mudam
Mas são sempre seus,
PARCEIROS

São três,
Mas vinte.
Vinte anos de parceria, de vida,
De dívida, de amizade
Vinte anos com seus eternos
AMIGOS

Queria eu poder ser melhor,
E saber fazer melhor, 
Ser menos sujeito a falha
Porém, ninguém é perfeito
E é desse jeito,
E é isso que nos faz
INSEPARÁVEIS

Pois é, pai
Pai amigo,
Pai de PAIxão,
Apaixonado pela sua profissão,
De cuidar,
De ser:
PARCEIRO
AMIGO
INSEPARÁVEL.


Rodrigo Aylmer

sábado, 13 de agosto de 2011

Ponto

O ponto.
É ponto.
Tem ponta, é ponta
O ponto aponta,
De ponta a ponta
O ponto é ponto e ponto.



Rodrigo Aylmer

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Inconstância

      Minha vida tá muito louca, tio Marcos. Não consigo nem acreditar... Tenho me apoiado no alicerce da loucura, do inconstante, do inacreditável. No ''deixa a vida me levar'', sabe? E tem dado certo. Tudo de bom tem acontecido comigo: notas boas, bons amigos, paz em casa, na escola, com Deus, com tudo, sabe, tem sido assim. Nunca me senti tão, tão justificado. Acho que têm um por quê na nossa vida. E, quem sabe  eu encontrei o meu?
      É isso tio. estava tudo assim, vívido, ardente, até que um dia eu tive um sonho. Um sonho. Um sonho! E o mais louco disso tudo, é que eu sonhei acordado. Não pense, tio, que eu vou falar que encontrei uma menina que  parecia um anjo, esse papo careta, blá blá blá encontrei meu pedacinho do céu, blá blá blá anjo em minha vida, nada disso. Eu sonhei acordado. Acordado! Como isso é possível? Não entendo... E foi no meio do dia! O mais bizarro, tio, foi que eu sonhei um sonho muito louco. Sonhei que estava sonhando.
      É, sonhei um sonho. Sonhei que estava sonhando. Não posso me lembrar com o que o meu sonho sonhado tratava. Só sei que estava sonhando. Sonhando dentro do sonho. Coisa maluca, né? Um pouco medonho até. Mas isso me intrigou, tio Marcos, me deixou com a cabeça virada. Foi que eu pensei: se eu sonhei acordado que sonhava um sonho, não seria tudo isso que vivo apenas mais um sonho? Não seria a vida apenas uma ilusão do inexistente, do que é mas não é, daquilo que é pseudo? E se o meu sonho sonhado fosse uma visão da realidade, enquanto a vida, que pensamos ser, é apenas um sonho? Não sei, tio Marcos, não sei. Talvez tudo seja apenas um sonho. Um ingênuo sonho.
      Quantas dúvidas, tio! Isso entope minha mente, chega a sair fumaça. Dói. Acho que dói mais lá dentro, no fundo, do que aqui pela superfície. Poderia ser mais simples né? As coisas deveriam ser o que parecem. Seria melhor. Mas já que não são, cabe a nós, tio Marcos, pensadores da vida (ou sonho) desvendar aquilo que os olhos não vêem, mas o coração sente. Você está sentindo alguma coisa, tio? Eu só estou com curiosidade. Quero saber, tio! Ai ai, será que um dia eu vou saber? Quem sabe, quem sabe...
      Mas o que resta a nós, além de viver (ou sonhar) aquilo que o destino inventou pra nós? Esse maldito labirinto! Será isso a realidade? Que chato! Não gosto da curiosidade. Mesmo assim, é ela quem me faz seguir adiante, que me faz tentar achar respostas pra vida que é. Ou sonho. Ninguém sabe.
    Ai, tio, tá ficando tarde. O sono vem rápido. Já tô quase dormindo. Espero que, quando eu dormir, eu acorde na realidade, no mundo de verdade, sabe? Aquele que eu deveria estar... Mas então, tio, o que você acha? É realidade ou ilusão?
    -...............
      Pois é tio. As vezes me esqueço que você é imaginação. Mora na minha mente, sempre saiba disso. Tô com sono... Vou dormir. Boa noite, tio Marcos, até amanhã, ou nunca. Quem sabe eu, quando for dormir, durma para acordar, viver o real? Talvez aconteça. Ou talvez tudo, absolutamente tudo seja um sonho. E quando eu acordar exista apenas nada, que é tudo. Ou o tudo, que é nada.

Rodrigo Aylmer
      

Sobre tudo

Sobre tudo o vento
Pra que não falte o som,
Que sussurra em meus ouvidos

Sobre tudo o momento
Pra que não falte o tom,
A chave de viver bem vivido

Sobre tudo o amor
Pra que não falte o dom,
O desejo de estar contigo

Sobre tudo você
Pra que não falte a mão,
Meu som, meu tom, meu dom,
Meu abrigo

Rodrigo Aylmer

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Apenas hoje (e sempre)

Que hoje se vá o tempo;
Quero andar sem relógio,
Apenas olhar para o nada,
E ver aquilo se transformar,
Em tudo

Que hoje se vá o medo;
E que eu possa me atirar do penhasco
Sem medo de cair.
Agora não tem o tempo,
Nem o medo,
Só o tudo

Que hoje se vá o mundo;
E, por um dia apenas,
Haja paz.
Que eu possa olhar pro lado,
Pro passado,
Pro medo,
E para o tempo,
E ver que não há mais
Aquilo que um dia me fez chorar

Que hoje se vá tudo;
Mas que também fique muito,
Um sorriso, talvez dois,
Não mais que todos.
Que apenas não me abandonem
O sol, o chão e os meus pés


Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Voar

Então vai lá
Sai de si,
Mas não mude;
Do jeito que está,
É pra ser

Vai lá
Veja que o vento não é só frio
Sinta de baixo das asas o arrepio
Da liberdade, que voa
Que é voar

Além do ar, o lar
O abrigo, o amigo,
Uma asa para se apoiar
Faça da casa um monte,
Um forte,
Bem alto
Pra se proteger
E perceber
Que a liberdade
Não está muito além do céu

Rodrigo Aylmer

Germinar

Faz sol aqui
Calor de verão
Mas sei que por dentro é inverno
E neva, graniza,
Chove; mas falta florir
A paz que brota
No coração

Faz inverno aqui,
Dentro, interno,
Escondido; ninguém vê
E espia: o sol lá fora
Sorri
Quer ir embora,
Chora
Está preso;
Chora

Faz falta;
Os nervos são frios
A alma é gelada
Quer sair e viver dela
Parece perdido...
Mas então abre
A janela
Vê o sol,
Coisa bela
Vê saída,
Sentinela
Vê a vida,
Passar com ela


Rodrigo Aylmer

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Velocidade

O relógio tá quase parando
Tem que encurtá palavras
Juntarasfrases,
Fazê sê rápido,
Informal e sem forma
Errado i certo,
Mau i bom,
Contra, sempre contrário,
Fora do rumo,
Sem rumo,
Sem caminho,
Sem destino,
Sem fim, e mesmo assim,
Acabado.
Nem a moral resistiu
Não é o fim,
Mas tá tudo assim,
Tão acabado...



Rodrigo Aylmer

Nós Dois

Veja o que eu te digo, amor
Paz nesse sorriso é dor
É verdade, de verdade

Sei que o amor não é pão do céu
Pra vir assim
Mas quem sabe dessa vez
E de uma vez
Eu possa ter
Você pra mim

Faça o que quiser, amor
Mas não vá, por favor
É maldade, é maldade

Pensei na cor do mar, azul
Ninguém percebeu
Que sou menino
E o destino
Quem traço
Sou eu

O tempo vai passar
E a gente com ele, meu bem
E vamos descobrir os segredos da vida
Vamos saber mais do que o normal
Mas isso é pra depois
Quando estivermos de partida
Quando for apenas nós dois


Rodrigo Aylmer

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Adiante

Pois é, Marcia, parece que tudo está no fim
Tudo está acabando,
Tudo está acabado,
E a gente não sabe pra onde correr...

Corre pro futuro, Maria, lá tem cama quente e água fresca,
Lá tem algo para nós,
Mesmo que abstrato,
O retrato
Daquilo que deu nó...

Então eu vou, mas não sem me despedir
Beijo a foto velha,
Acendo a minha vela
Mas não sei pra onde ir,
Não sozinha...

Vou contigo, amiga velha
O passado não me quer mais
Cansei de me ver atrás
Da vida, que é finita...

Não a nossa, Maria, a nossa não tem fim
Vamos seguindo reto,
Sei que lá tem teto,
Casas de marfim...

Mas você sabe que, para ir,
Temos que passar,
E repassar
Pro lado de lá
Sem poder olhar...

Sei, minha velha,
Mas lá tem lugares tais
Que nunca se viu,
E não verão jamais.

Então sigamos adiante,
Aonde estamos,
Não está distante,
Ruas de diamantes.
Já deixamos tudo para trás...


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gotas de Sangue

      E o sangue escorreu. Não posso dizer que jorrou porque não o foi . Foi escorrendo. Gotejando. Lento. Quase inacabável. O sofrimento era tanto que ela não podia aguentar. Ninguém podia aguentar. Ninguém podia.
      Mas como então ela estava ali, de pé, plantada no chão,resistindo, suportando quase imóvel, sem reagir? Não se sabe. O que se sabe é que nenhum zumbido era escutado, nem aqui e nem em nenhum canto do mundo. Ela se mantinha muda. Apesar de saber que a morte seria agora a sua única companhia, ela se mantinha muda. Ela era muda.
      E naquele momento de dores finais, lembrava-se de todos os seus outonos, dos amores que havia germinado, da vida que deu em sua casa. Lembrava-se também das cores que era. Quantas cores! Era um exemplo. Era um apoio para muitos. Nunca vi deixar de apoiar um
que precisava. E, assim como qualquer cidadã normal, queria que tudo fosse infinito. Que a glória fosse infinita. Mas nunca deixou se iludir. Seguiu conforme alguém de caráter segue. E isso não bastou para poupar a sua morte. Nunca basta.
      A essa hora, ela já se foi. Não está mais entre nós. E nem enterro ela pode ter. Não quiseram que tivesse. Seus parentes nada puderam fazer. Estavam chocados e imóveis, assim como ela. E assim como ela, deixaram de ser. O seu sangue escorreu. Foi morta para dar vasão a um prédio novo, e jogada em um caminhão, já avivada. O seu sangue escorreu. Pelo caminho, a sua última marca na terra, no asfalto cinzento. Gotas de sangue.


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eterno

Eterno é a resposta da vida
É o começo depois do fim
O futuro ao quadrado
Um espaço abandonado

Ou até mesmo um coração que para
É aonde se encontram os quês invisíveis
Onde estão todos aqueles que não se encontram mais aqui
Eterno é uma coisa rara

Dizem que o eterno não é só depois
Que tem um pedacinho dele aqui,
Uma história que não acaba,
Um romance a dois

É verdade.
Mas são poucos os que podem achar
Se na simplicidade,
Ou numa noite de inverno
Não se sabe.
Só dá pra saber,
Quando tudo acabar




Rodrigo Aylmer

Janela

Nova é a casa
Que eu não pude ir.
O calmo silêncio me espera

Bato a porta
Se não puder abrir,
Entro pela janela



Rodrigo Aylmer

terça-feira, 31 de maio de 2011

Quase Tudo

      Joca morava no beco, centro, do lado da prefeitura. Sua casa era uma caixa de cosméticos, papelão meio rasgado, com alguns lençois roubados de um varal. Não era a primeira vez que chovia e estava ali, ensopado, sonhando seus sonhos, vivendo sua miséria. Estava chovendo muito.
      Sonhava com quase tudo, carros, uma casa de verdade, paz, vida. Joca queria sair dali. Queria ser um menino normal. Sua aparencia era tal ao ponto de terem medo do pobre menino abandonado. Que vergonha! Ninguém pode ver um pouco além? A dor de um que fora abandonado? Não entendem... Seus problemas são uma trave nos seus olhos. Eles apenas não entendem.
      A chuva não cessava. Como se fosse pouco, os céus insistiram em fazer com que ele sofresse mais. Sozinho. Tremia mas do que um ser humano poderia aguentar. E se quiser saber, Joca não era humano. Pelo menos não aos olhos dos que o viam.
    Bem,  não vou complicar mais do que o destino já complicou: Joca morreu. Morreu de frio, naquela mesma noite chuvosa. Quem lê, pensa que Joca morreu da falta de calor no corpo. Não, não foi assim. Joca morreu do frio da alma; da falta de ser alguém, de ter alguém. Não foi a chuva que tirou sua pobre vida, mas sim a solidão, a tristeza de não ter ninguém. Joca era apenas uma criança, que morreu daquilo que mais mata o corpo, a tristeza. Ele morreu de tristeza. Ele só queria ter o que quase todo mundo tem. Então, quando ver Joca na rua, pense duas vezes antes de continuar andando.

Rodrigo Aylmer

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Afim enfim

No corre-corre
Do dia-a-dia
Vemos a tarde à tarde
Da vinda vida

No desespero-espero
Vô e ando, voando
Vou por em, porém
Meu coração, ação
Em um afim enfim

Sai de mim, assim
Ah, sim!
Meu amor, ''A'' mor
Quero também, tão bem
Você, vou ser
Só seu,
Sou seu


Rodrigo Aylmer

Para ti

Me tirou do aconchego
A rosa dele parecia ser mais vermelha
Mas não tinha raiz
E toda rosa um dia murcha

Subi na telha
Quem fui eu para pensar
Que no engarrafamento
Iria atravessar
E encontrar o meu contento?
O sorriso que eu te dou espelha
E agora que ele te roubou,
O tens na veia

O galo cantou três vezes
Bela e ingênua,
Não podes ver o que está perto?
E tu ainda achas que de alma nua
É real esse afeto
Um dia verás, bela,
Um dia verás

Sei que seu sol não nasce pra mim
A falta que me faz do que não houve entre nós dois
Não é tão grande assim
Mas é
Um dia aprenderá, pois
Que Sem Voz,
Não tem fé
No amor

E agora,
Com o coração no peito
E o sentimento no papel,
Descanso em paz


Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sorte

Chora, que esse sorriso não me ganha
A tempestade foi embora
E com ela a culpa vã

Cora, o coração está pintado
De percursão eu vou ao lado
Dizendo amor até amanhã

Vem, se tem que ser assim,
Então deixa ser
Se o dia é ruim,
Aprenda que viver
É rir para crer

Noite, a escuridão não me escura
O pique-esconde me procura
É hora de ir trabalhar

Foste, um dia antes é passado
De um dia eu fui mastigado
Foste minha e sempre será

Vem, se tem que ser assim,
Então deixa eu ver
Se a fase é ruim, Aprenda que viver
É sorrir para crer

Rodrigo Aylmer

Aurora

Olha o que o tempo fez com nós dois
Depois de exprimir a saudade que gira,
Que gira

Olha esse sorriso, eu deixei pra depois
Caminhando e voando no ar que a gente respira,
Que a gente respira

Chega de chorar pelo que eu não fiz
Se eu sei, acontece que o tempo demora
Se falta um abraço, o tempo é quem diz
Se o resumo de tudo se foca na aurora,
Se foca na aurora

O nosso teto caiu sobre nós
E na incerteza perdi-me no meu caminho,
No meu caminho

Estamos mais perto de ficar a sós
Mas acabo caindo e ficando sozinho,
Ficando sozinho

Ah se eu fizesse um futuro pra nós
Sempre ao seu lado eu estaria
Tente escutar o som da minha voz
Se eu não fosse assim, então quem eu seria?
Quem eu seria?



Rodrigo Aylmer

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Capa de chuva

Ah, tanto faz
Quem faz a diferença aqui
Faz em qualquer lugar

Conte os meus dias
O tempo que eu já vivi
Não poderei viver mais

Sei que hoje vai chover, então
Leve uma capa de chuva
Deixe a dor ir embora
Mergulhe no céu que não muda

No silêncio, a voz do futuro
Dizendo pra seguir em frente
Respirando o ar da gente

No intento, um plano inseguro
Que mostra o que a alma sente
E revela o futuro presente

E o céu vai chorar a saudade do que procura
E nós vamos viver a lógica da loucura

Mas não se esqueça de mim
Saba que só ganha quem chega no fim


Rodrigo Aylmer,
Em homenagem à (só ela sabe)

Rotina

Quando abro a janela do quarto e vejo ele sair
Percebendo a luz por trás dos montes
Perde a timidez, vem me iluminar, o sol

E ensaio um assunto, um anseio de tarde
Deixa eu te contar sobre as minhas vaidades
Vai fugir de mim, se esconder no mar, o sol

Ainda bem que eu tenho você
Pra poder me trazer alegria
O prazer que me dá de te ver todo dia
Vem me iluminar, candeia



Rodrigo Aylmer  e Daniel Caldeira

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Aval

Sou só um esboço
Daqueles que viraram rasura
Depois plano
Que o mundo está à procura
E o tempo carrega com  esforço

Quem não é humano?
Não é pergunta sem resposta
E se há beleza que o sol não mostra
Me diz onde se encontra
Que eu trago de volta

Se não estás na montanha
Nem nos mares, nem no fim
Essa lembrança que me acanha
Faz- me ir além
Até darem aval de mim

E quando o tempo ir embora
Não se vá com ele, morena
Ainda há mais para nós dois
Enquanto o céu, de cor amena
Compõem seus dias de glória
A razão que nos une
Vai moldando nosso depois


Rodrigo Aylmer

domingo, 1 de maio de 2011

A Mancha Vermelha

          E ali estava: deitado, esparramado de bruços no chão, como se estivesse escutando alguma coisa. Uma voz. Era isso, estava escutando uma voz. Mas não podia ser, não tinha como ser. Estava estagnado no meio do asfalto, de bruços, sem nenhum sinal de ferida. O trânsito parado, carros buzinando, pessoas gritando com pressa. Imóveis, olhavam para ele como se fosse uma aberração. E ele estava ali, em paz, sem nenhum movimento. Parecia estar bem, até que uma mancha vermelha começou a aparecer no asfalto.
          Ninguém tinha coragem de chegar perto.Ninguém fazia nada. Aos poucos, foi-se acumulando gente em volta do senhor deitado no chão, olhando, vendo, como se fosse uma atração de circo. Ninguém se motivava para ajudar. Ninguém levantava um dedo para socorrer o pobre homem. Ninguém fazia nada.
          Eu me aproximei para ver de perto. E lá estava. Um senhor de idade, beirando os oitenta, com seu suéter azul e sua calça de veludo marrom, naquela sexta feira de sol. Era um cara simples, pobre. Parecia estar lúcido. Ele queria dizer algo, um sussurro, mas em meio de tantos flashs e de pessoas falando, nada se ouvia. Não sei porque aquilo me incomodou. Pessoas morrem todos os dias, aqui, ali, sempre foi assim e sempre vai ser. Mas aquilo era diferente. Podia até não conhecê-lo, mas eu estava ali. E estando ali, fazia parte dos últimos momentos daquele homem.
          É estranho como as coisas acontecem. Os acidentes. Os acasos. A vida mesmo. Ela é uma peça, mas cada vez nos conduz de uma maneira mais desensaiada, imprevisível. Nos leva a fins sem clímax, à um enredo que não sabemos dizer qual. Mas os acidentes, tais não existem. Como já disse, a vida é uma peça, que mesmo sabendo o final, assistimos até o fim, empolgados, achando que será diferente. As escolhas são as mesmas. E tudo se resume nisso. Escolhas.
          À medida que o tempo passava, a mancha vermelha aumentava mais em volta do rosto do pobre homem. E ele não podia fazer nada. Ainda estava ali, respirando, suspirando, sofrendo seus últimos minutos, que, mesmo ruins, eram de fama. Não sei o que ele pensava naquele instante. Devia estar pensando na manchete do dia seguinte: idoso morre atropelado em plena luz do dia no bairro de São Francisco. Não sei se era um daqueles momentos em que toda a sua vida passa diante dos seus olhos. Eu só sei que lentamente escorreu uma lágrima no rosto daquele homem. Uma lágrima de dor e de saudade. Ele sabia o que estava acontecendo. Com muito esforço, franziu a testa em expressão de sofrimento . O tempo era curto. Ele tinha que ir. Não podia mais dizer nada. A ambulância chegou sem pressa e o levou. O alto som da sirene me incomodava os ouvidos.



Rodrigo Aylmer

Tempo Curto

Fechei os olhos e dormi
Mesmo que por cinco minutos
Eu sei que foram curtos
Mas foram eternos

Então feche os olhos e durma
Mesmo que por cinco minutos
Eu sei que serão curtos
Mas serão eternos

Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Fazer a Indiferença

      Tive o que dizer e me calei. Não acredito que isso aconteceu. Me juntei ao silêncio dos mudos, aos indiferentes, àqueles que não fazem diferença. Eu não me expressei.
      Tive a oportunidade e me calei. A voz do errado cantou mais alto. Como pude? Como pude não fazer nada? Aqueles olhos me olharam gritando, gritando sem saber, clamando por ajuda. Estampando um pedido de socorro maior do que eles mesmos, clamando por alguém. E eu não fiz nada.
      Ai, essa dor ainda me mastiga. Eu não entendo por que estava assim, tão perto, a oportunidade, mas tão inalcansável, inacessível, longe. O socorro pediu por mim, mas eu o desprezei. A voz do sofrimento berrou em meus ouvidos e, mesmo assim, não quis escutar. Eu sei que posso escolher. E escolhi. Não fiz nada.
      Eu fiz a indiferença. Fui mais um. Um dia me disseram que você só aprende a amar quando começa a se importar com os outros. Quando você olha para aquela pessoa que você não gosta e percebe que ela é falha igual a você. Que ela também ama, que ela também sofre, que ela também tem sentimentos, por mais fechada que seja. Você faz a diferença quando ama os que não amam. E, naquele dia, eu não fiz.
      É verdade, fiz a indiferença. Algumas coisas não tem como a gente mudar. Mas eu sei que, enquanto o sol brilhar na terra,e as pessoas acordarem e saírem de suas casas, oportunidades irão surgir. E eu não quero perder novamente a chance de dar uma chance àqueles que precisam de uma.


Esse texto é para aqueles que alguma vez já deixaram de fazer o que é certo. Há sempre outra chance.

Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Soneto à Verdade

Ah se todas as cores, meras cores
Realmente fossem coloridas
Se todas as cores tivessem vida
E pra todas as vidas, amores

Se pra todo pranto houvesse ombro
E para todo ''te amo'', alguém
Se para todo penhasco, escombro
E pra todo manto, gente sem

Se toda alma tivesse partida
Da lucidez ou da ignorância,
Sem a tolerância da culpa vã

Se em todos houvesse infância
E, sonhando, vissem o amanhã
Então a vida não seria a vida


Rodrigo Aylmer

Abriu

Dias frios, me acompanhem
Nessa jornada de melancolia
Me acompanhem no dia a dia

Chuva de outono
Cai no meu ombro e deita
Me molha com sua sede,
Com sua saudade

Chuva de verdade
Finalmente você pode chorar
O sol nasce com sono
E some atrás do horizonte
Com a poeza de só sonhar

Chuva sem dono
Poderia ser seu,
Se soubesse quem eu sou
Tive a sorte de te conhecer
Mas se soubesse quem te choveu
Não sonharia em saber quem eu sou
Só pediria para eu não chover

Chuva de abril
Esse resquício de vontade
Me lembra a saudade
Que eu vou sentir
Quando amanhã você não surgir
E eu ver que seu coração
Finalmente se abriu

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Olhos Verdes

Incríveis olhos verdes
Tão puros,
São puros,
Vão seguros,
No rosro que ela tem

Lindos olhos verdes
São os olhos que ela têm
São os olhos que vêem além
Ah, cor perfeita,
Como eu queria ter-te!

Profundos olhos verdes
Vim vê-los de perto
Quantas histórias já viram
Quantos sorrisos sorriram
Quantos são como vocês?

Ah, cor dos olhos
Por que não estás nos olhos meus?
Vejo a vida em outros olhos
Mas você,
Vê a vida mais verde
Vê mais a vida
E o que são os olhos meus
Se comparados aos seus?

Rodrigo Aylmer

quinta-feira, 31 de março de 2011

A menina de olhos coloridos

Nos tempos difíceis
Quando até a cama é fria
E as core, tão sem cores,
Não respondem à luz do dia

Quando o sol nasce morto
E a lua não cresce mais
Quando pro mar não tem porto
E pro barco não tem cás

Quando a chuva não tem água
E o tempo passa em vão
Quando a dor se transforma em lágrima
E a tristeza em solidão

Quando a risada emudece
E a paz perde a quietude
Quando o homem perde a virtude
E a lembrança, mera lembrança
Se esquece

Quando você cresce
E a vida não acontece
E parece não ter sentido
E não há o que fazer
Tenha fé
Você vai ser sempre você
A menina de olhos coloridos


Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 28 de março de 2011

O Cosmo

      É tudo muito ilógico- disse Beto. Depois de algumas tentativas e muito estudo, finalmente passara para a faculdade de astronomia. Desde pequeno queria saber como funcionavam as coisas fora do planeta. Sonhava em sair desse mundo cheio de problemas e aflições e ir para a lua, ou até ficar no espaço mesmo, flutuando em naves e vendo a terra por fora. Tudo o que ele queria era um lugar onde pudesse ter paz. Não era pedir muito.
      Beto foi um daqueles meninos abandonados pela mãe ainda quando era bebê. Dona Rosa o encontrou num orfanato, chorando, de tal modo que quando o viu sentiu tanta compaixão pelo menino que o adotou, mesmo sabendo que seu marido, o seu Márcio, não gostava de crianças. Dona Rosa criou beto como se fosse seu próprio filho, apesar de não poder ter um.
      Seu Márcio maltratava Beto de todas as formas possíveis, menos da violenta. Sabia que poderia ser preso se o agredisse, então infernizava a vida de Beto como podia. Beto não entendia porque seu padrasto o odiava tanto. Pensava que ele dava muito trabalho e que consumia muito dinheiro da família. Sendo de classe média baixa, procurava dar menos trabalho possível, afim de que seu Márcio não o odiasse tanto assim.
      E Beto foi crescendo nesse meio de tanto ódio e tanto amor ao mesmo tempo. Dona Rosa sempre procurou dar um ensino de qualidade para o menino. Sabia que ele podia ir longe. E estudando e se dedicando foi que Beto conseguiu passar para a faculdade de astronomia. Sabia que podia ir longe.
      Beto quis de especializar no cosmo. Achava interessante o fato de ser tão grande e com tanta matéria e ter surgido de um pequeno ponto. Mas sabia que aquilo não era obra do acaso. Sabia que tinha alguma coisa ou alguém por trás de tanta grandeza. Só não sabia o que ou quem. E estava disposto a saber o que era.
      Os anos fora se passando e Beto foi crescendo cada vez mais, sempre estudioso. Ele quis saber tudo o que podia sobre o cosmo. Fez mestrado, doutorado, pós-doutorado em astronomia, afim de saber o que estava por trás da grandeza do cosmo. E mesmo assim, não conseguia descobrir. Fez invenções, descobertas científicas, revolucionou o modo de ver além do além. Mesmo assim, não sabia o que estava além do cosmo. Mas Beto sabia que podia ir longe.
      Beto foi se tornando cada vez mais famoso. Ganhou o prêmio Nobel da ciência mais de uma vez. Ganhou fãs, ganhou muito dinheiro. Ganhou tudo o que uma pessoa diz precisar para ser feliz. Mas estava vazio. Aquela pequena frecha do além do cosmo o deixava intrigado. Não conseguia saber quem fizera o maldito cosmo. Mas Beto sabia que podia ir além.
      E Beto fez 50, 60, 70, 80 até que chegou aos 93 anos e teve um infato. Sua família, amigos, fãs, companheiros, todos foram visitar o nobre Beto no hospital onde estava. A cidade inteira se reuniu em volta do hospital com cartazes e cartazes em homenagem à Beto, que se tornara o ídolo da humilde cidade de São Franco, no interior do Rio. Beto já sabia que não lhe restava muito tempo. Fez seu testamento e logo pensou em tudo o que batalhou na sua vida, seus prêmios, sua família, seus netos, e na maldição do cosmo. Mas logo que olhou para si, percebeu que não demoraria muito para ele descobrir o que estava por trás do cosmo. Assim, fechou seus olhos e deu seu último sorriso. Finalmente, descobriria quem estava por trás de tudo.

Rodrigo Aylmer

Dois Lados

A risada riu da rima
A rima rimou com a risada
As duas viraram amigas
E andam de mãos dadas

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vinte e cinco minutos

      Sentado na esquina. Apenas observando. Aquela cena clássica, em que todos nós já passamos, de esperar a carona sentado na esquina, olhando para o nada. O som das rodas dos carros se arrastando pelo asfalto cinzento, as várias cores e sons que vemos e escutamos, pedestres apressados e sem tempo para viver passando, nada que eu nunca tenha visto. Realmente, era uma cena com nada de única.
      O tempo passava e a carona, nada de chegar. Nesse momento era de costume encostar a cabeça na mão, dar um suspiro e pensar no que fazer sábado à noite, sair com os amigos ou ver um filminho em casa. Mas dessa vez não foi assim.
      Não entendo o por quê das coisas. Nunca entendi e infelizmente nunca vou entender. Não por ignorância ou por incapacidade, mas porque elas não são para serem compreendidas, apenas para serem aceitas do jeito que são.
      Um olhar foi o suficiente para descobrir que aquela cena que estava diante dos meus olhos nunca foi igual, nunca foi uma mesmice. Nada é igual. Se você for perceber, há sempre uma pincelada diferente, um toque, ou as vezes dois ou três ou mais. Nunca se sabe, a não ser que se observe. Uma senhora passeando com os netos, cada um deles com palitos de sorvete na mão, todos lambuzados com o sabor chocolate. Uma folha a mais que caiu, com seu pigmento verde-amarelado, daquelas que só no Brasil tem. Um casal de abelhas, que dançam ao redor das orquídeas plantadas no jardim do prédio. Até mesmo o asfalto, que firmemente resiste ao massacre que é submetido. Eu nunca imaginei que em vinte e cinco minutos, eu veria tudo isso


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 22 de março de 2011

Mais de Perto

Poucos pés que se cabem
Poucos sorrisos que acolhem
Poucas vozes se escutam
Poucos olhos que se olhem

Poucas mãos que se unem 
Poucos céus são azuis
Poucas pessoas que se mudem
Poucas cores tem luz

Nem toda chuva tem água
Nem toda água tem sal
Nem todo choro tem lágrima
Nem todo bem tem um mal

Nem todo vento assopra
Nem toda gota choveu
Nem todo guia demostra
Nem toda fé é de Deus

Se todo tempo fosse hora
Se todo erro fosse certo
Se tudo entre fosse embora,
Eu veria mais de perto

Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 18 de março de 2011

Já aconteceu

Ah, olhos meus!
Se eu pudesse ver...
Se eu visse antes de acontecer,
Meu Deus,
Seria tudo diferente
Ou até mesmo não seria

Se eu soubesse que não veria,
Ainda estaria vendo
Se eu soubesse quando erraria,
Poderia ser perfeito
Se eu soubesse que não saberia
Estaria sabendo
Se eu visse adiante,
Se eu visse,
Se...

Mas nessa terra distante
O que eu vejo é um mar de gente,
Mar de sede,
Seca da vida que um dia foi

Se eu soubesse dessa gente
Da miseria dos meus!
Eu nao sabia
E enquanto eu falo "se"
Isso já aconteceu


Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 11 de março de 2011

Pequena

Isso é mais que uma emoção
Vai além de um desejo
Quero antes seu coração
Para depois ter seu beijo
Quero poder te dar a mão
Ver as coisas que nao vejo
Quero dizer que nao é vão
O sentimento que pelejo
Nao quero água, nao quero pão
Nem uma cidade ou um vilarejo
Quero antes seu coração
Para depois ter seu beijo

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sapatos meus

Tiro meus sapatos cansados
Que não aguentam mais serem pisados
Massacrados pelo calor do dia

Descansem, nobres guerreiros, 
Heróis de si mesmos,
Para mais uma batalha sob os pés meus
Onde nunca vencerão, pobres guerreiros,
Viverao para sempre sob meus apogeus

Quisera Deus que fossem alados
Sei que nunca estariam aqui
Quisera Deus que andassem por si!

Escrevam suas histórias, sapatos meus!
Falem de suas fés!
Pois um dia o tempo vai passar
Hei de crescer com meus pés
E quando eu notar,
Já não serão mais sapatos meus...

Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Brinquedoteca

A vida é um brinquedo
Do qual brincamos com estupidez

Quando percebemos seu degredo
Brincamos como se fosse a última vez


Rodrigo Aylmer

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Erros

Errar é arte
Errar faz parte
Errar é corte
Erro é cicatriz

Se não errasse,
Não seria eu
Sendo torto, quero ser certo
Sendo louco, vivo incorreto
Sendo pouco, passo direto
Vivo pouco, mas vivo de perto

Viver é errar
Só de pensar,já errei
Já errei tanto, meu Deus
Tenha dó
Tenha piedade
Só que errar é humano
Não faz parte do meu plano
Mas vou continuar ERRANO
E isso, por mais errado que seja,
É certo


Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Acreditar

Acreditar em nós dois
Viver o agora
Acenando para o amanhã

Acreditar no depois
Esperar que não demora
Jogar fora a culpa vã

Acreditar no que se foi
Olhar para trás com glória
E pra vida como sã

Acreditar no que vem de fora
Saber que o amor não foi embora
E que a fé não é vã


Rodrigo Aylmer

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Penso

Um sorriso sai de seu olhar
E logo faz a diferença

Indeciso grito ao luar
Apenas para marcar presença

Preciso tiro para matar
A sua nua indiferença

Ranzinzo murmuro linear
Do velho com doença

É preciso mais que o bê-a-bá
Para mudar o que se pensa

Rodrigo Aylmer

Rosas de Concreto

A cidade
Com estúpidas e inválidas rosas de concreto
Ao invés de trazer vida ao que está por perto
Traz morte à paisagem que um dia existiu
Queria que não fosse verdade...

Rosas de concreto
Secas e pálidas
Cor de nada
Cor de sem cor
Com nada de rosa
Com nada de afeto
Com nada de amor

Se exibem orgulhosas
Para os jardineiros de cimento
Cuja arte é destruir e remodelar
A antiga vida,
Nas mortas rosas

Um dia elas não existem
No outro já foram plantadas
Escondem o sol,
Escondem a lua,
Escondem a vida,
Não mostram nada

Rosas de concreto
Estúpidas e inválidas
Floresceram onde a vida vivia
Um dia elas vão cair
E vai raiar o sol
Que antes a rosa escondia


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Brisa

Delicada como uma pétala,
Ela veio sutil, discreta
Sussurrou no meu ouvido ideias
Ideias repletas de respostas,
Ideias de poeta

Me perguntava que era ela,
O que ela queria, de onde ela veio
Mas ela me respondia apenas com um sussurro
Que parecia não parar
E eu só pensava em como chegar em casa

Não entendia como uma simples brisa me dizia tanto
Naquela tarde de terça-feira
Quem sabe as minhas respostas eram ditas por aquele canto
Ou que minha vida parou por uma tarde inteira

As coisas vão e vem,
Tão discretas que me fazem rir
Quando eu não sei pra onde ir
A brisa me diz o que fazer

Rodrigo Aylmer

O apren-diz

Queria saber o porquê da música
Que com tanta dor expressa o que sente
Ou as vezes com amor, com fúria, como gente,
Como a gente,
Que só busca o futuro que quer ver

Queria saber como ser poeta
Que com tanta vida expressa a própria vida
Mesmo quando dita estar sem saída
Mesmo quando diz: Não tenho para onde correr

Queria saber o porquê do amor
Que mesmo sendo bobo, é tão perfeito
Que sendo tanto, afaga o peito
E ao logo de seu encanto,
Não se vê defeito

Queria ir mais além, de modo que não se meça
Mas se fosse, não teria graça
A diversão só seria fumaça
E a minha vida só seria uma peça


Rodrigo Aylmer

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Eterna Dádiva

      Foi tudo muito rapido, muito discreto. Tao discreto que ninguém percebeu, exeto todo o mundo. Todo mundo que ainda sabia o que era olhar para alguém e nao pensar nesse alguém como um objeto de prazer. Todo mundo que ainda sabia o verdadeiro sentido da palavra "adimirar". Todo mundo que naquele pedaço de mundo, era apenas eu.
      Eu sabia que nunca mais veria tal cena. Sabia porque era um lugar inóspito por minha parte. Sabia porque nada acontece de uma maneira tao unica como aconteceu. Mas a certeza de que era inesquecível me consumiu de uma maneira tao singela, que me deu a falsa esperança de ser eterno. Por menos eterno que fosse, foi infinito enquanto durou.
      Era, por mais simples e discreta que fosse, um anjo. Nao no sentido figurado da palavra, mas era literalmente um anjo. Nao se via asas, nem auréolas, nem muito menos uma tunica branca. Apenas se vestia com um vestido amarelo, com varios detalhes que pareciam ser o sol. Ela era tão humana e tão divina, que me faltaram palavras para descrever. Bastou um simples olhar para eu perceber que ela era pura e única. E era estranho, pois ela passeava na rua, mas ninguém a via. Parecia que só eu pudia vê-la.
      O seu vestido era chamativo. Os sois unicamente estampados nele pareciam se virar conforme o sol se virava. Dava a impressão que eles queriam saltar dali e se unir ao grande astro. Foi quando apareceu uma outra pessoa, uma mulher que carregava um semblante tao pesado quanto a própria morte.
      Ela usava um vestido preto, esquisito, e estava claramente se mexendo pelo seu corpo. Ela se aproximou da bela moça e começou a discutir com ela. E elas gritavam tao alto, que era como estivessem apunhalando meus ouvidos. Elas começaram a se empurrar, se bater até que a moça de preto caiu, e com muita dor disse algo de maneira que desapareceu.
      A bela moça que ainda estava de pé olhou pra mim e sorriu. Ela apenas sorriu. Sorriu um sorriso de esperança. Sorriu o sorriso mais fascinante que eu ja vi. E depois ela desapareceu.Foi a ultima vez que a vi.
      Foram necessarios anos para eu perceber que o que  aconteceu naquele dia único foi o que é certo em conflito com o errado. Eu sabia que eles estão sempre em conflito, mas nunca tinha visto de uma modo tão claro. E eu percebi que ganha aquele quem você der mais atenção. Aquele quem você alimentar mais.Nunca mais vi nada como o que eu vi naquele dia.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Solstícios da Alma

Cinza chuva de inverno
A tristeza toma conta da cidade
O que era alegria vira saudade
E o que era de fora se torna interno

Durante dias longos e melancólicos
Vive-se no aconchego da solidão
E a certeza de que ainda vai demorar
Toma conta da isolada multidão

Branca chuva de verão
Com forte mormaço na praia e na cidade
Grandes nuvens surgirão
E tomarão conta do azul com voracidade

E então,
Por poucos minutos todos se recolhem
E deixam a chuva cair,
Limpando tudo em seu caminho
E no pensamento a esperança que já já vai passar...



Do meu amado irmão,
Daniel Aylmer

Guarde a chuva

Chove, chuva que chora
Que implora,
Para que não evapore no chão

Chove, chuva que choca,
Que cheira, que chega,
Que aconchega
Que à chamado
Trazendo a vida, a calma

Chove, chuva que chia,
Que cochicha,
Que cochila
Cochila tanto que cai das nuvens
Até o chão
E evapora,
Até ir para o céu,
Seu lar,
Seu colchão

Chove, chuva que rega,
Que não nega!
É chuva,
É vida,
Quem quiser tê-la
Reza




Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vida de pirata

A chuva batendo
A onda levando
Os raios caindo
Não podemos parar de remar
Içem as velas!
Puxem a âncora!
Terra à vista!
Como é bom a vida no mar...

Máscaras

O sono bate
E o cansasso vem junto
Com eles vem o peso
De achar ser mais um no mundo

Não digo pensar ser ninguém
Só digo que como todos, que vivemos,
Deviamos pensar em ser alguém
Não que querem que sejamos
Mas que sejamos quem queremos

Que caiam as máscaras
Daqueles que se cansaram da falsidade
E que abram os sorrisos
Daqueles que encontraram a verdadeira verdade

Que se abram os olhos
Daqueles que nao podem ver
E também daqueles que não querem
Que eles percebam
Que a vida é muito mais que sobreviver

Sei que as vezes não faço o que fui feito pra fazer
E que não sei quando é munha hora de partir
Mas com toda a certeza do mundo, eu afirmo
Que enquanto eu viver
Vou deixar minha máscara cair
E ser quem eu deveria ser

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

As vezes em que vivo

As vezes parece que 20 minutos sao uma eternidade
As vezes parece que a chuva nao passa
Ou ate que ela é escassa
As vezes, apenas uma gota mata a saudade

Talvez um beijo salvasse o amor
Talvez um sorriso fosse um acorde
E uma risada fosse uma musica
Da qual nao se cantasse nem o melhor cantor

Quem sabe duas palavras bastassem
Para mudar toda uma vida
Quem sabe migalhas de pao marcassem 
A trilha já percorrida

Quem sabe se o mundo nao fosse o mundo
 Nos Seriamos quem dizemos ser
Quem sabe se o universo nao fosse tao profundo
Viveriamos a verdade, ao inves da mentira que dizemos viver


Rodrigo Aylmer

domingo, 2 de janeiro de 2011

Idéias opostas

Não quero mais viver
E eu nunca poderei dizer
Minha vida tem valor
Todo dia reflito, e sei
Que ninguém nunca me amou
Mentirei no dia em que disser
Vivo com uma razão
Não me falta a certeza de que
Não alcancei meus sonhos
A unica frase que nunca direi é
Minha vida valeu a pena
Sei que no final poderei afirmar
Que vivi inutilmente
A maior mentira que eu poderia dizer é
Combati o bom combate




...Agora, leia de baixo para cima, do último verso ao primeiro.
São dois textos diferentes. São duas perspectivas diferentes. São idéias opostas.
Idéia: qual é a sua?



Rodrigo Aylmer