segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A língua

Estranha espada sem gume
Pequena lança sem ponta
Peça que constrói e desmonta
Monte alto e sem cume

A mesma carne que cortas, costura
A mesma dor que odeias, maquina
Porque mesmo sendo amarga, és cura
E mesmo sendo torpe, és vacina

Sorte, no entanto, que não és paralela
Para que de ti dissessem uma verdade só
De tal forma que, sem valor, torna-te pó
E, com ele, torna-te bela

Sei que és muitas, verbo
Tantas faces que tens na língua
Brilha como a luz

Porém, sendo humilde servo,
Sua verdade me mingua,
E sua relutância, me seduz


Rodrigo Aylmer

Amor

O amor é como um rio
Que vai descendo pela foz
E quando ele deságua em nós,
Vive-se um eterno arrepio

Ventana

O vento é cego,
Surdo,
Mudo,
Semi-inútil.
Como ele,
Apenas nós mesmos

Temporal

O tempo eu não vi
Ele passa alado
Só por dele ter falado,
Já o perdi...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Atriz Principal

A noite,
Passando, 
Disputando com um lindo crepúsculo, 
vendo quem tem mais casais românticos
Disse "adeus" ao sol 
E ele indo, de fininho,
Deixando seu rastro rosado no infinito, 
Delicado, quase inesquecível,
Perfeito aos olhos que amam ao fim de tarde
E vem a calada,
Muda, cega, surda,
Fotofobíaca, quase
Fria e precisa,
Calculista e amável,
Doce e imprudente,
Gelando o ar,
Aquecendo os corações
Dos casais,
Que se aquecem com um beijo caloroso
Se perdem ali mesmo, no farol
Com um pedido, que passa pelo céu
"que não acabe mais" 
Com o gostinho do eterno
Amor,
Aquecendo os corações
Dos faróis acesos
Em meio à calada
Ganhou a lua,
A mais quieta,
Os casais românticos
Das noites serenas
Onde ela é a atriz principal


Rodrigo Aylmer

Liberdade Póstuma

O choro em sua voz roída
Como se estivesse em uma corda, bamba,
Como se fosse uma criança de idade

As lágrimas escorridas
Suicidando-se pelo seu rosto,
Bambo,
Como se fossem de verdade

Os sorrisos de despedida
Afogando- se no mar defunto,
Trampo,
Choro de pura falsidade

O fim de mais uma vida
Chorando-o sem parar,
Tanto,
Como choro de liberdade


Rodrigo Aylmer

Cria

Como faz falta o tempo passado
Quando o mundo era um carrosel
Todo tudo era tão simples, 
E feliz...

Quando tudo o que eu sempre quis
Era ser astronauta,
Ou cientista,
Ou que nem meu pai

E o sol ria como a criança que era
As nuvens brincavam de pega-pega no céu
E a lua, a lua era um sorriso deitado
Eu virava a cabeça para vê-la sorrir

Nesses dias onde a paz era vista em cada esquina
E o amor era de graça, 
Viveu uma criança,
Que sente falta do tempo passado,
Mas sabe que o tempo passado,
Nao foi perdido

Rodrigo Aylmer