quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eternamente na manhã seguinte

      Felipe estava intrigado. A maior dúvida de sua longa vida, de doze anos. Não sabia o que fazer, estava entrando em colapso. Resolveu perguntar pro pai:
- pai, o que que é o amor?
      Pelo amor de Deus, pensou o pai, esse menino só me pergunta coisa difícil. Semana passada, quando ele me perguntou o que que era "gozo", eu quase surtei. Imagine como é dificil explicar para uma criança o que que é gozo? Quase impossível.
- pai, ta demorando pra responder... 
      Ah, filho, o amor é forte, algo que quando vem, nao dá pra segurar, disse o pai.
- Então quer dizer que se eu comer bem e ficar forte, quer dizer que eu vou virar amor? Que esquisito!!!
      Caramba, pensou Otávio, esse menino é esperto. Desisto. Vou ser sincero.
      Filho, papai vai te explicar o que é o amor. É assim: os sentimentos são nomes que damos para as reações do nosso corpo à situações do dia-a-dia... E Otávio continuou falando disso, dizendo que o amor era o mais forte dos sentimentos, que era vivo e dominava a gente. Disse também que tinham tipos de amores diferentes. 
- tem o amor que papai sente por você e o amor que um dia voce vai sentir por uma menina.
      Pronto. Estava quebrado. Como que o pai descobrira que estava apaixonado? Ou gostando. Ou sei lá, era uma criança não sabia dizer. Só sabia que tinha uma menina que mexia com ele, lá no fundo, onde ninguém pode chegar. Se entregou.
- ta bom pai, to cansado, vou dormir. Depois a gente fala sobre isso. Boa noite.
      Não podia ter sido assim. Tem alguma coisa errada. Ele nunca fez isso antes. Fazia no mínimo dez perguntas antes de ir, e sete e meia nunca deitou. Adorava brincar de lego antes de dormir as nove e quarenta. Vou deixar passar, amanha tenho relatorio de dados para entregar, pensou Otávio. E foi.
      Enquanto seu pai estava em paz,  Felipe se remexia no seu quarto, todo decorado do sistema solar. Tinha até estrela que brilhava no escuro. Deitado de bruço na cama, olhando para o fundo da parede azul marinho, não parava de pensar.O que será que é? Acho que eu tô amando. Ou não, deve ser só um olhar diferente, só isso. Mas eu me sinto tão bem com ela... Deve ser. Estou amando. 
      Aquela conversa com o pai o deixara confuso. Aliás, sempre o deixava confuso. Aquela vez que perguntara o que era "gozo" e o pai falou que era sinônimo de desfrutar, como alegria, não tinha nada a ver com o que tinham dito a ele. Mas não importava. Só sabia que no dia seguinte ainda tinha aula, e de educação física. Ia chamá-la para dançar no arraiá. Estava decidido. E estava confuso. Não podia dizer se era amor. Pensou num canto distante da mente em lhe roubar um beijo na bochecha, mas logo esqueceu a idéia ridícula. Não pensava mais nada. Só queria dormir, porque tinha a certeza que ia vê-la na manha seguinte. E queria que a manhã seguinte durasse eternamente


Rodrigo Aylmer

Atualmente

Agora,
Nesse dia,
Nesse instante,
Constante agonia,
Secante alegria,
Berrante terapia,
Sempre, entre
Na mente,
Na gente
Se perde,
A cada instante.
Olha o livro
Através da lente
Pare.
E pense:
Não existe atualmente

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai-xão

E é uma,
Veio dois,
São três!
Três, 
Os quais são seus pequenos
Sempre, mesmo se crescerem,
Mesmo se mudarem, e mudam
Mas são sempre seus,
PARCEIROS

São três,
Mas vinte.
Vinte anos de parceria, de vida,
De dívida, de amizade
Vinte anos com seus eternos
AMIGOS

Queria eu poder ser melhor,
E saber fazer melhor, 
Ser menos sujeito a falha
Porém, ninguém é perfeito
E é desse jeito,
E é isso que nos faz
INSEPARÁVEIS

Pois é, pai
Pai amigo,
Pai de PAIxão,
Apaixonado pela sua profissão,
De cuidar,
De ser:
PARCEIRO
AMIGO
INSEPARÁVEL.


Rodrigo Aylmer

sábado, 13 de agosto de 2011

Ponto

O ponto.
É ponto.
Tem ponta, é ponta
O ponto aponta,
De ponta a ponta
O ponto é ponto e ponto.



Rodrigo Aylmer

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Inconstância

      Minha vida tá muito louca, tio Marcos. Não consigo nem acreditar... Tenho me apoiado no alicerce da loucura, do inconstante, do inacreditável. No ''deixa a vida me levar'', sabe? E tem dado certo. Tudo de bom tem acontecido comigo: notas boas, bons amigos, paz em casa, na escola, com Deus, com tudo, sabe, tem sido assim. Nunca me senti tão, tão justificado. Acho que têm um por quê na nossa vida. E, quem sabe  eu encontrei o meu?
      É isso tio. estava tudo assim, vívido, ardente, até que um dia eu tive um sonho. Um sonho. Um sonho! E o mais louco disso tudo, é que eu sonhei acordado. Não pense, tio, que eu vou falar que encontrei uma menina que  parecia um anjo, esse papo careta, blá blá blá encontrei meu pedacinho do céu, blá blá blá anjo em minha vida, nada disso. Eu sonhei acordado. Acordado! Como isso é possível? Não entendo... E foi no meio do dia! O mais bizarro, tio, foi que eu sonhei um sonho muito louco. Sonhei que estava sonhando.
      É, sonhei um sonho. Sonhei que estava sonhando. Não posso me lembrar com o que o meu sonho sonhado tratava. Só sei que estava sonhando. Sonhando dentro do sonho. Coisa maluca, né? Um pouco medonho até. Mas isso me intrigou, tio Marcos, me deixou com a cabeça virada. Foi que eu pensei: se eu sonhei acordado que sonhava um sonho, não seria tudo isso que vivo apenas mais um sonho? Não seria a vida apenas uma ilusão do inexistente, do que é mas não é, daquilo que é pseudo? E se o meu sonho sonhado fosse uma visão da realidade, enquanto a vida, que pensamos ser, é apenas um sonho? Não sei, tio Marcos, não sei. Talvez tudo seja apenas um sonho. Um ingênuo sonho.
      Quantas dúvidas, tio! Isso entope minha mente, chega a sair fumaça. Dói. Acho que dói mais lá dentro, no fundo, do que aqui pela superfície. Poderia ser mais simples né? As coisas deveriam ser o que parecem. Seria melhor. Mas já que não são, cabe a nós, tio Marcos, pensadores da vida (ou sonho) desvendar aquilo que os olhos não vêem, mas o coração sente. Você está sentindo alguma coisa, tio? Eu só estou com curiosidade. Quero saber, tio! Ai ai, será que um dia eu vou saber? Quem sabe, quem sabe...
      Mas o que resta a nós, além de viver (ou sonhar) aquilo que o destino inventou pra nós? Esse maldito labirinto! Será isso a realidade? Que chato! Não gosto da curiosidade. Mesmo assim, é ela quem me faz seguir adiante, que me faz tentar achar respostas pra vida que é. Ou sonho. Ninguém sabe.
    Ai, tio, tá ficando tarde. O sono vem rápido. Já tô quase dormindo. Espero que, quando eu dormir, eu acorde na realidade, no mundo de verdade, sabe? Aquele que eu deveria estar... Mas então, tio, o que você acha? É realidade ou ilusão?
    -...............
      Pois é tio. As vezes me esqueço que você é imaginação. Mora na minha mente, sempre saiba disso. Tô com sono... Vou dormir. Boa noite, tio Marcos, até amanhã, ou nunca. Quem sabe eu, quando for dormir, durma para acordar, viver o real? Talvez aconteça. Ou talvez tudo, absolutamente tudo seja um sonho. E quando eu acordar exista apenas nada, que é tudo. Ou o tudo, que é nada.

Rodrigo Aylmer
      

Sobre tudo

Sobre tudo o vento
Pra que não falte o som,
Que sussurra em meus ouvidos

Sobre tudo o momento
Pra que não falte o tom,
A chave de viver bem vivido

Sobre tudo o amor
Pra que não falte o dom,
O desejo de estar contigo

Sobre tudo você
Pra que não falte a mão,
Meu som, meu tom, meu dom,
Meu abrigo

Rodrigo Aylmer