quinta-feira, 31 de março de 2011

A menina de olhos coloridos

Nos tempos difíceis
Quando até a cama é fria
E as core, tão sem cores,
Não respondem à luz do dia

Quando o sol nasce morto
E a lua não cresce mais
Quando pro mar não tem porto
E pro barco não tem cás

Quando a chuva não tem água
E o tempo passa em vão
Quando a dor se transforma em lágrima
E a tristeza em solidão

Quando a risada emudece
E a paz perde a quietude
Quando o homem perde a virtude
E a lembrança, mera lembrança
Se esquece

Quando você cresce
E a vida não acontece
E parece não ter sentido
E não há o que fazer
Tenha fé
Você vai ser sempre você
A menina de olhos coloridos


Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 28 de março de 2011

O Cosmo

      É tudo muito ilógico- disse Beto. Depois de algumas tentativas e muito estudo, finalmente passara para a faculdade de astronomia. Desde pequeno queria saber como funcionavam as coisas fora do planeta. Sonhava em sair desse mundo cheio de problemas e aflições e ir para a lua, ou até ficar no espaço mesmo, flutuando em naves e vendo a terra por fora. Tudo o que ele queria era um lugar onde pudesse ter paz. Não era pedir muito.
      Beto foi um daqueles meninos abandonados pela mãe ainda quando era bebê. Dona Rosa o encontrou num orfanato, chorando, de tal modo que quando o viu sentiu tanta compaixão pelo menino que o adotou, mesmo sabendo que seu marido, o seu Márcio, não gostava de crianças. Dona Rosa criou beto como se fosse seu próprio filho, apesar de não poder ter um.
      Seu Márcio maltratava Beto de todas as formas possíveis, menos da violenta. Sabia que poderia ser preso se o agredisse, então infernizava a vida de Beto como podia. Beto não entendia porque seu padrasto o odiava tanto. Pensava que ele dava muito trabalho e que consumia muito dinheiro da família. Sendo de classe média baixa, procurava dar menos trabalho possível, afim de que seu Márcio não o odiasse tanto assim.
      E Beto foi crescendo nesse meio de tanto ódio e tanto amor ao mesmo tempo. Dona Rosa sempre procurou dar um ensino de qualidade para o menino. Sabia que ele podia ir longe. E estudando e se dedicando foi que Beto conseguiu passar para a faculdade de astronomia. Sabia que podia ir longe.
      Beto quis de especializar no cosmo. Achava interessante o fato de ser tão grande e com tanta matéria e ter surgido de um pequeno ponto. Mas sabia que aquilo não era obra do acaso. Sabia que tinha alguma coisa ou alguém por trás de tanta grandeza. Só não sabia o que ou quem. E estava disposto a saber o que era.
      Os anos fora se passando e Beto foi crescendo cada vez mais, sempre estudioso. Ele quis saber tudo o que podia sobre o cosmo. Fez mestrado, doutorado, pós-doutorado em astronomia, afim de saber o que estava por trás da grandeza do cosmo. E mesmo assim, não conseguia descobrir. Fez invenções, descobertas científicas, revolucionou o modo de ver além do além. Mesmo assim, não sabia o que estava além do cosmo. Mas Beto sabia que podia ir longe.
      Beto foi se tornando cada vez mais famoso. Ganhou o prêmio Nobel da ciência mais de uma vez. Ganhou fãs, ganhou muito dinheiro. Ganhou tudo o que uma pessoa diz precisar para ser feliz. Mas estava vazio. Aquela pequena frecha do além do cosmo o deixava intrigado. Não conseguia saber quem fizera o maldito cosmo. Mas Beto sabia que podia ir além.
      E Beto fez 50, 60, 70, 80 até que chegou aos 93 anos e teve um infato. Sua família, amigos, fãs, companheiros, todos foram visitar o nobre Beto no hospital onde estava. A cidade inteira se reuniu em volta do hospital com cartazes e cartazes em homenagem à Beto, que se tornara o ídolo da humilde cidade de São Franco, no interior do Rio. Beto já sabia que não lhe restava muito tempo. Fez seu testamento e logo pensou em tudo o que batalhou na sua vida, seus prêmios, sua família, seus netos, e na maldição do cosmo. Mas logo que olhou para si, percebeu que não demoraria muito para ele descobrir o que estava por trás do cosmo. Assim, fechou seus olhos e deu seu último sorriso. Finalmente, descobriria quem estava por trás de tudo.

Rodrigo Aylmer

Dois Lados

A risada riu da rima
A rima rimou com a risada
As duas viraram amigas
E andam de mãos dadas

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vinte e cinco minutos

      Sentado na esquina. Apenas observando. Aquela cena clássica, em que todos nós já passamos, de esperar a carona sentado na esquina, olhando para o nada. O som das rodas dos carros se arrastando pelo asfalto cinzento, as várias cores e sons que vemos e escutamos, pedestres apressados e sem tempo para viver passando, nada que eu nunca tenha visto. Realmente, era uma cena com nada de única.
      O tempo passava e a carona, nada de chegar. Nesse momento era de costume encostar a cabeça na mão, dar um suspiro e pensar no que fazer sábado à noite, sair com os amigos ou ver um filminho em casa. Mas dessa vez não foi assim.
      Não entendo o por quê das coisas. Nunca entendi e infelizmente nunca vou entender. Não por ignorância ou por incapacidade, mas porque elas não são para serem compreendidas, apenas para serem aceitas do jeito que são.
      Um olhar foi o suficiente para descobrir que aquela cena que estava diante dos meus olhos nunca foi igual, nunca foi uma mesmice. Nada é igual. Se você for perceber, há sempre uma pincelada diferente, um toque, ou as vezes dois ou três ou mais. Nunca se sabe, a não ser que se observe. Uma senhora passeando com os netos, cada um deles com palitos de sorvete na mão, todos lambuzados com o sabor chocolate. Uma folha a mais que caiu, com seu pigmento verde-amarelado, daquelas que só no Brasil tem. Um casal de abelhas, que dançam ao redor das orquídeas plantadas no jardim do prédio. Até mesmo o asfalto, que firmemente resiste ao massacre que é submetido. Eu nunca imaginei que em vinte e cinco minutos, eu veria tudo isso


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 22 de março de 2011

Mais de Perto

Poucos pés que se cabem
Poucos sorrisos que acolhem
Poucas vozes se escutam
Poucos olhos que se olhem

Poucas mãos que se unem 
Poucos céus são azuis
Poucas pessoas que se mudem
Poucas cores tem luz

Nem toda chuva tem água
Nem toda água tem sal
Nem todo choro tem lágrima
Nem todo bem tem um mal

Nem todo vento assopra
Nem toda gota choveu
Nem todo guia demostra
Nem toda fé é de Deus

Se todo tempo fosse hora
Se todo erro fosse certo
Se tudo entre fosse embora,
Eu veria mais de perto

Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 18 de março de 2011

Já aconteceu

Ah, olhos meus!
Se eu pudesse ver...
Se eu visse antes de acontecer,
Meu Deus,
Seria tudo diferente
Ou até mesmo não seria

Se eu soubesse que não veria,
Ainda estaria vendo
Se eu soubesse quando erraria,
Poderia ser perfeito
Se eu soubesse que não saberia
Estaria sabendo
Se eu visse adiante,
Se eu visse,
Se...

Mas nessa terra distante
O que eu vejo é um mar de gente,
Mar de sede,
Seca da vida que um dia foi

Se eu soubesse dessa gente
Da miseria dos meus!
Eu nao sabia
E enquanto eu falo "se"
Isso já aconteceu


Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 11 de março de 2011

Pequena

Isso é mais que uma emoção
Vai além de um desejo
Quero antes seu coração
Para depois ter seu beijo
Quero poder te dar a mão
Ver as coisas que nao vejo
Quero dizer que nao é vão
O sentimento que pelejo
Nao quero água, nao quero pão
Nem uma cidade ou um vilarejo
Quero antes seu coração
Para depois ter seu beijo

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sapatos meus

Tiro meus sapatos cansados
Que não aguentam mais serem pisados
Massacrados pelo calor do dia

Descansem, nobres guerreiros, 
Heróis de si mesmos,
Para mais uma batalha sob os pés meus
Onde nunca vencerão, pobres guerreiros,
Viverao para sempre sob meus apogeus

Quisera Deus que fossem alados
Sei que nunca estariam aqui
Quisera Deus que andassem por si!

Escrevam suas histórias, sapatos meus!
Falem de suas fés!
Pois um dia o tempo vai passar
Hei de crescer com meus pés
E quando eu notar,
Já não serão mais sapatos meus...

Rodrigo Aylmer