É tudo muito ilógico- disse Beto. Depois de algumas tentativas e muito estudo, finalmente passara para a faculdade de astronomia. Desde pequeno queria saber como funcionavam as coisas fora do planeta. Sonhava em sair desse mundo cheio de problemas e aflições e ir para a lua, ou até ficar no espaço mesmo, flutuando em naves e vendo a terra por fora. Tudo o que ele queria era um lugar onde pudesse ter paz. Não era pedir muito.
Beto foi um daqueles meninos abandonados pela mãe ainda quando era bebê. Dona Rosa o encontrou num orfanato, chorando, de tal modo que quando o viu sentiu tanta compaixão pelo menino que o adotou, mesmo sabendo que seu marido, o seu Márcio, não gostava de crianças. Dona Rosa criou beto como se fosse seu próprio filho, apesar de não poder ter um.
Seu Márcio maltratava Beto de todas as formas possíveis, menos da violenta. Sabia que poderia ser preso se o agredisse, então infernizava a vida de Beto como podia. Beto não entendia porque seu padrasto o odiava tanto. Pensava que ele dava muito trabalho e que consumia muito dinheiro da família. Sendo de classe média baixa, procurava dar menos trabalho possível, afim de que seu Márcio não o odiasse tanto assim.
E Beto foi crescendo nesse meio de tanto ódio e tanto amor ao mesmo tempo. Dona Rosa sempre procurou dar um ensino de qualidade para o menino. Sabia que ele podia ir longe. E estudando e se dedicando foi que Beto conseguiu passar para a faculdade de astronomia. Sabia que podia ir longe.
Beto quis de especializar no cosmo. Achava interessante o fato de ser tão grande e com tanta matéria e ter surgido de um pequeno ponto. Mas sabia que aquilo não era obra do acaso. Sabia que tinha alguma coisa ou alguém por trás de tanta grandeza. Só não sabia o que ou quem. E estava disposto a saber o que era.
Os anos fora se passando e Beto foi crescendo cada vez mais, sempre estudioso. Ele quis saber tudo o que podia sobre o cosmo. Fez mestrado, doutorado, pós-doutorado em astronomia, afim de saber o que estava por trás da grandeza do cosmo. E mesmo assim, não conseguia descobrir. Fez invenções, descobertas científicas, revolucionou o modo de ver além do além. Mesmo assim, não sabia o que estava além do cosmo. Mas Beto sabia que podia ir longe.
Beto foi se tornando cada vez mais famoso. Ganhou o prêmio Nobel da ciência mais de uma vez. Ganhou fãs, ganhou muito dinheiro. Ganhou tudo o que uma pessoa diz precisar para ser feliz. Mas estava vazio. Aquela pequena frecha do além do cosmo o deixava intrigado. Não conseguia saber quem fizera o maldito cosmo. Mas Beto sabia que podia ir além.
E Beto fez 50, 60, 70, 80 até que chegou aos 93 anos e teve um infato. Sua família, amigos, fãs, companheiros, todos foram visitar o nobre Beto no hospital onde estava. A cidade inteira se reuniu em volta do hospital com cartazes e cartazes em homenagem à Beto, que se tornara o ídolo da humilde cidade de São Franco, no interior do Rio. Beto já sabia que não lhe restava muito tempo. Fez seu testamento e logo pensou em tudo o que batalhou na sua vida, seus prêmios, sua família, seus netos, e na maldição do cosmo. Mas logo que olhou para si, percebeu que não demoraria muito para ele descobrir o que estava por trás do cosmo. Assim, fechou seus olhos e deu seu último sorriso. Finalmente, descobriria quem estava por trás de tudo.
Rodrigo Aylmer
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