quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Rosa

O desabrochar da Rosa cidade
É sempre lento.
Tarda a provar,
De verdade,
O seu suor, o seu caule nú,
O que tens para dar
Quando a cidade apaga
As luzes tão escuras

Que finges tu não ver
Que o seu ar é vício
Já se sabe;
Mas cada pétala é um riso infinito
Cada sereno que cai sobre ti
É esmola
E a busca infindável pelo feliz
Faz queimar de fora desta flor
(Que tanto tarda a amadurecer)
Um incenso que ilude.
E faz pensar,
Saber, sim, saber,
Que o dia vindouro,
Para mim,
Sempre será o dia de seu desabrochar

Rodrigo Aylmer

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Os dias contados


Eu não sei mais reconhecer
Nenhum palpite do tempo
Sobre as colorações dos meus olhos
Quando veem quem me agrada

E se você quiser posso fingir soletrar
Os verbos que te rodeiam
Mas as letras se embolam no ar
E eu me vejo com os dias contados

Não consigo olhar pro lado
Sem ter medo de acreditar.
Eu não tenho sorte,
Só um pouco de aflição
Em errar,
Em mentir pra quem amo.
Embora todos os dias contados,
Um que foge a lei:
O dia em que viverei!

Rodrigo Aylmer

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

2002 razões


Diante da eternidade do que hoje é finito, cabem-nos os risos de três períodos vividos, grifados em vinte e duas faces de berços diferentes, no entanto filhos de um mesmo cômodo, com um quadro, e mesas monotonamente verde-saudade. Trazem um peso quase invisível, que newtons não poderiam medir nenhum atrito resultante, ou qualquer força contrária aos bons dias utilmente inúteis encaixados no lado esquerdo do peito de vinte e dois suspiros chorados, em lágrimas ou não.
Se vovô viu a uva, diz a rainha do português, sejam todos os dias como sábado e domingo, e dia de campanha política pró-fessor, que estuda a terra em geometamorfoses, entretanto, com cui-da-do, porque a história quem molda somos nós. Hoje, que o tempo é passado, todos os dias ficam como manhãs de formação, e todos os estojos em ar-condicionados, e todos os esporros em papéis assinados por pais que, sem perceber, geraram membros de uma sala, com dois mil e duas razões para ter o título de "mais babaca", porém de mais feliz.
Não é saudade, é lembrança. Saudade só é saudade quando não se é mais criança.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Seis anos

     Me pergunte de mim. Não tenho muitas palavras. Não. Mas sei lá. Não sei explicar. Acabaram os versos que eu guardei para recitar de noite. Não eram tão bons assim. Me senti mal depois de tudo o que aconteceu. Estou com marcas que você deixou. Não consigo dormir hoje. Mordeu-me bem no ponto dor, e chorei, até sair o nó da garganta. Você me feriu. Ou foi ao contrário?
      Não. Eu só me importo contigo. Foi só saudade de um futuro de seis anos. Daqui até lá? Tempo vívido. Vivido. Mais curativo, preciso agora estancar essa saudade. Apressar nunca é bom. Na nuca então, descasca mais uma cebola para fingir que é falso. Só eu sei o que é. Bonito é achar lindo essa hora pontiaguda. Não vale fingir. O vento bate, e dá arrepio. Mas foi o vento, ou apenas saudade daquele dia, seis anos para frente? O tempo estanca. Mas parece que o tempo estaca. Deve ser isso.
      Bem no peito da nuca, e arrepia de novo. Incinera essa saudade. Está longe. Demais. De mim. Pinta com cal por cima, para ver se disfarça. Alto relevo não dá. Passa outra camada. Até sumir. Bem no ponto dor. Facada. Bom é que o branco é quase ilusão de ótica. Mas a sombra é intocável. Marcou para sempre. Ou melhor, marcará para sempre. O ar é mais leve sem esse chumbo todo. Leva de mim esse cálice. É muito pesado. Sempre quis me livrar do passado. Mas amarrotou minha história, e o que me resta é nada além de migalhas comidas de um futuro distante de seis anos, que eu peguei de gula, mas me arrependo de ter botado a mão tão longe. Nunca vou esquecer do dia em que sonhei com o futuro. É visão? Não. Reflexo instintivo. Nada além disso.
      Mas podia ser rebobinado. Está tarde demais para voltar atrás. Seis anos para frente eu posso pensar assim. Mas hoje, hoje é um momento irrepreensível, ficou para a galeria das memórias. Quanto a você, pinte de cal, se quiser. Mas é quase impossível que queira. Lembro do seu sorriso quando fecho as pálpebras. Aquele de hoje, e o de seis anos para a frente. São os mesmos. Muda o tempo e o espaço, mas a constante S é eterna, junto com a beleza que carrega dos ombros para cima, e para baixo. A beleza está nos olhos de quem vê. E no coração de quem ama. Essa frescura antirruga me dói a alma. Quero ficar velho com alguém ao meu lado. Chorar sua morte e ser chorado também. Ser eternizado num momento de seis anos para frente. E mais doze, dezoito, vinte e quatro, trinta, e eterno.
      Me pergunte novamente de mim. Não sei. Tenho muitas coisas a dizer. Falo por mim mesmo. O tempo fez-me bem. E ele só faz bem. Para os sábios, as rugas trazem felicidade, e não arrependimento. Netos com sobrenome renomado no livro do recorde que é único. Um só lugar, uma só nação, uma só noção.

A rosa dos ventos

Um sorriso discreto no canto da boca
Uma verdade que é para ser eterna
''você está linda porque é linda''
exclamam os dentes brancos e pálidos.
nunca pensei que iria tão longe,
mas as gotas caem,
e a água não apaga,
não tem como apagar!
O Fim é certo, mas para nós,
é terra distante.

Superando os medos de cada dia
e as vontades escuras e musculosas
vamos indo, em frente,
que é o nosso lugar,
Do lado do certo
da verdade
Definitivamente
definida.
E a definição
é retorcida
será?
será.

Se não for,
uma gota doce de repreensão virá delicadamente
tocar os olhos amargos de cegueira noturna
e veria mais que os meus olhos encaroçados
O que o Norte aponta
e os pés que andam
na rosa dos ventos
seriam fingidos
Os tempos
das unhas que crescem
da pele que enruga
a manta que cai
Mas isso,
eu duvido.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Dez e sete

Cabe no bolso da calça
A chave de casa, a lembrança
de Ontem, da foto que eu tirei
Sim, sem perceber,
Segredo, mas
Não lembrei dela

Sabe, queria mais tempo
de ver-te,
não lembrei das fotos,
rasgaram, preciso de novas
novidades
Ideias de romance
queria duas
Uma para mim,
outra para você,
que está precisando.

Tavez mais uma
Para um terceiro estado
Tranca no bolso, Junto com a chave,
e a foto está rasgada
em sete pedaços iguais
Eu quis guardá-los separados.
a lembrança é assim,
fragmentos,
troços foscos
memórias é passado
E não há festim
que costure o rasgado.
Memórias de mim
um vaso quebrado
dois vasos quebrados
Três
Quatro,
Oito.
Dez
e sete.


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Meu canto

Não tenhas medo,
Se o seu coração titubeia,
Não é erro de cordel,
Nem mal de sangue e veia

Fagulhas doutro bem queimam
Na terra onde um é rei
Criança que esconde a tez,
Não vanguarde o seu poema

Escuta o silêncio do meu choro
Ele te diz, nossa verdade,
É a mesma Dele
Lembra-te
O que ama não desama
O que cria não destrói
Amplia
Pinta
Monta
E exibe com orgulho
A história de borboletas
Que deu o nó nas pontas
Os pingos nos is
Cegou os monstros
Lavou os risos,
E os nossos corações.

Esse é o meu canto
o canto que eu canto,
Em cores nunca pretas.

Nessa água sem lama
Na melodia que se lava em pranto,
O meu canto tem sete letras:
Segredo.

Rodrigo Aylmer