quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Seis anos

     Me pergunte de mim. Não tenho muitas palavras. Não. Mas sei lá. Não sei explicar. Acabaram os versos que eu guardei para recitar de noite. Não eram tão bons assim. Me senti mal depois de tudo o que aconteceu. Estou com marcas que você deixou. Não consigo dormir hoje. Mordeu-me bem no ponto dor, e chorei, até sair o nó da garganta. Você me feriu. Ou foi ao contrário?
      Não. Eu só me importo contigo. Foi só saudade de um futuro de seis anos. Daqui até lá? Tempo vívido. Vivido. Mais curativo, preciso agora estancar essa saudade. Apressar nunca é bom. Na nuca então, descasca mais uma cebola para fingir que é falso. Só eu sei o que é. Bonito é achar lindo essa hora pontiaguda. Não vale fingir. O vento bate, e dá arrepio. Mas foi o vento, ou apenas saudade daquele dia, seis anos para frente? O tempo estanca. Mas parece que o tempo estaca. Deve ser isso.
      Bem no peito da nuca, e arrepia de novo. Incinera essa saudade. Está longe. Demais. De mim. Pinta com cal por cima, para ver se disfarça. Alto relevo não dá. Passa outra camada. Até sumir. Bem no ponto dor. Facada. Bom é que o branco é quase ilusão de ótica. Mas a sombra é intocável. Marcou para sempre. Ou melhor, marcará para sempre. O ar é mais leve sem esse chumbo todo. Leva de mim esse cálice. É muito pesado. Sempre quis me livrar do passado. Mas amarrotou minha história, e o que me resta é nada além de migalhas comidas de um futuro distante de seis anos, que eu peguei de gula, mas me arrependo de ter botado a mão tão longe. Nunca vou esquecer do dia em que sonhei com o futuro. É visão? Não. Reflexo instintivo. Nada além disso.
      Mas podia ser rebobinado. Está tarde demais para voltar atrás. Seis anos para frente eu posso pensar assim. Mas hoje, hoje é um momento irrepreensível, ficou para a galeria das memórias. Quanto a você, pinte de cal, se quiser. Mas é quase impossível que queira. Lembro do seu sorriso quando fecho as pálpebras. Aquele de hoje, e o de seis anos para a frente. São os mesmos. Muda o tempo e o espaço, mas a constante S é eterna, junto com a beleza que carrega dos ombros para cima, e para baixo. A beleza está nos olhos de quem vê. E no coração de quem ama. Essa frescura antirruga me dói a alma. Quero ficar velho com alguém ao meu lado. Chorar sua morte e ser chorado também. Ser eternizado num momento de seis anos para frente. E mais doze, dezoito, vinte e quatro, trinta, e eterno.
      Me pergunte novamente de mim. Não sei. Tenho muitas coisas a dizer. Falo por mim mesmo. O tempo fez-me bem. E ele só faz bem. Para os sábios, as rugas trazem felicidade, e não arrependimento. Netos com sobrenome renomado no livro do recorde que é único. Um só lugar, uma só nação, uma só noção.

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