quinta-feira, 30 de junho de 2011

Velocidade

O relógio tá quase parando
Tem que encurtá palavras
Juntarasfrases,
Fazê sê rápido,
Informal e sem forma
Errado i certo,
Mau i bom,
Contra, sempre contrário,
Fora do rumo,
Sem rumo,
Sem caminho,
Sem destino,
Sem fim, e mesmo assim,
Acabado.
Nem a moral resistiu
Não é o fim,
Mas tá tudo assim,
Tão acabado...



Rodrigo Aylmer

Nós Dois

Veja o que eu te digo, amor
Paz nesse sorriso é dor
É verdade, de verdade

Sei que o amor não é pão do céu
Pra vir assim
Mas quem sabe dessa vez
E de uma vez
Eu possa ter
Você pra mim

Faça o que quiser, amor
Mas não vá, por favor
É maldade, é maldade

Pensei na cor do mar, azul
Ninguém percebeu
Que sou menino
E o destino
Quem traço
Sou eu

O tempo vai passar
E a gente com ele, meu bem
E vamos descobrir os segredos da vida
Vamos saber mais do que o normal
Mas isso é pra depois
Quando estivermos de partida
Quando for apenas nós dois


Rodrigo Aylmer

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Adiante

Pois é, Marcia, parece que tudo está no fim
Tudo está acabando,
Tudo está acabado,
E a gente não sabe pra onde correr...

Corre pro futuro, Maria, lá tem cama quente e água fresca,
Lá tem algo para nós,
Mesmo que abstrato,
O retrato
Daquilo que deu nó...

Então eu vou, mas não sem me despedir
Beijo a foto velha,
Acendo a minha vela
Mas não sei pra onde ir,
Não sozinha...

Vou contigo, amiga velha
O passado não me quer mais
Cansei de me ver atrás
Da vida, que é finita...

Não a nossa, Maria, a nossa não tem fim
Vamos seguindo reto,
Sei que lá tem teto,
Casas de marfim...

Mas você sabe que, para ir,
Temos que passar,
E repassar
Pro lado de lá
Sem poder olhar...

Sei, minha velha,
Mas lá tem lugares tais
Que nunca se viu,
E não verão jamais.

Então sigamos adiante,
Aonde estamos,
Não está distante,
Ruas de diamantes.
Já deixamos tudo para trás...


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gotas de Sangue

      E o sangue escorreu. Não posso dizer que jorrou porque não o foi . Foi escorrendo. Gotejando. Lento. Quase inacabável. O sofrimento era tanto que ela não podia aguentar. Ninguém podia aguentar. Ninguém podia.
      Mas como então ela estava ali, de pé, plantada no chão,resistindo, suportando quase imóvel, sem reagir? Não se sabe. O que se sabe é que nenhum zumbido era escutado, nem aqui e nem em nenhum canto do mundo. Ela se mantinha muda. Apesar de saber que a morte seria agora a sua única companhia, ela se mantinha muda. Ela era muda.
      E naquele momento de dores finais, lembrava-se de todos os seus outonos, dos amores que havia germinado, da vida que deu em sua casa. Lembrava-se também das cores que era. Quantas cores! Era um exemplo. Era um apoio para muitos. Nunca vi deixar de apoiar um
que precisava. E, assim como qualquer cidadã normal, queria que tudo fosse infinito. Que a glória fosse infinita. Mas nunca deixou se iludir. Seguiu conforme alguém de caráter segue. E isso não bastou para poupar a sua morte. Nunca basta.
      A essa hora, ela já se foi. Não está mais entre nós. E nem enterro ela pode ter. Não quiseram que tivesse. Seus parentes nada puderam fazer. Estavam chocados e imóveis, assim como ela. E assim como ela, deixaram de ser. O seu sangue escorreu. Foi morta para dar vasão a um prédio novo, e jogada em um caminhão, já avivada. O seu sangue escorreu. Pelo caminho, a sua última marca na terra, no asfalto cinzento. Gotas de sangue.


Rodrigo Aylmer

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eterno

Eterno é a resposta da vida
É o começo depois do fim
O futuro ao quadrado
Um espaço abandonado

Ou até mesmo um coração que para
É aonde se encontram os quês invisíveis
Onde estão todos aqueles que não se encontram mais aqui
Eterno é uma coisa rara

Dizem que o eterno não é só depois
Que tem um pedacinho dele aqui,
Uma história que não acaba,
Um romance a dois

É verdade.
Mas são poucos os que podem achar
Se na simplicidade,
Ou numa noite de inverno
Não se sabe.
Só dá pra saber,
Quando tudo acabar




Rodrigo Aylmer

Janela

Nova é a casa
Que eu não pude ir.
O calmo silêncio me espera

Bato a porta
Se não puder abrir,
Entro pela janela



Rodrigo Aylmer