quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mudança

Se acaso não souber
O que o amanhã espera,
Espera no amanhã
E, um dia, crescerá, se quiser

Se, no instante, não houver
A cura para as dores
Faça das dores a cura
E um dia crescerá, se quiser

E, caso não veja luz,
E encontre nas certeza, dúvidas
Faça das dúvidas suas certezas
E um dia, crescerá, se quiser

Porém, se não souber amar
E não houver alegria, só tristeza
Faça na tristeza a sua alegria
E um dia crescerá
Se quiser

Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Problema Principal

      Foi só olhar pela fresta da porta e ver aquilo que eu nunca tinha reparado. Estava na aula de matemática, com sono, daquele jeito que, qualquer coisa, por mais minúscula que seja, te rouba a atenção. O problema que mais atrapalha é que a mesa em que sento fica colada na porta, quase do lado da maçaneta, e a porta abre de forma que quando aberta, me da uma visão completa do corredor principal do primeiro andar, onde passam todos os alunos para fazer qualquer coisa pela escola.
     Acontece que a maçaneta está com defeito, e a porta não fecha por completo, deixando uma razoável fresta para eu obrservar, enquanto aluno que as vezes se destrai, as bizarrices que a minha escola, como qualquer outra, me oferece.
      Já vi de tudo: tombos, choros, consolos, sermãos, a mais vasta gama de experiências visuais. Houve certo dia- hoje mais cedo- que em mais um de meus devaneios, olhei pela bendita fresta. O que eu vi, não foi uma cena agradável aos olhos comuns. Seria um tanto repugnante. Um menino cadeirante, com a sindrome de... Girando em sua cadeira de roda. Sua síndrome é de modo que seus braços tão deformados, torpes, voltados para fora, parecem estar sempre acenando. Podia ver o sorriso em seu rosto, tambem e não menos deformado, que era como se ele estivesse no paraíso, naqueles momentos em que rodava, rodava e rodava. 
     Não sorria menos o homem que girava o menino, em duas rodas traseiras da cadeira de rodas, que aos meus olhos, parecia ser para eles a maior roda-gigante do mundo. E eles riam inconsequentemente, no que parecia ser um momento de puro êxtase, de exaltação a vida. Porque para o menino, estar vivo era o motivo de viver, e nada mais, apenas a vida bastava a ele. Nem carros, dinheiro, ou brinquedo algum o faria sentir-se mais feliz do que as voltas tontas que dava incessantemente em sua cadeira de rodas.
      E riam-se sem parar, a causar-me inveja de tal alegria. Quantas vezes eu me pego triste, abatido por não ter ganho aquele tênis que eu queria, por não ter ido na festa de fulano, não ter conseguido tal coisa, e o menino, sorria. Ele sorria de felicidade por estar ali. Quantas vezes você fica triste por pequenas coisas fúteis, enquanto está sempre cercado de motivos para ser alegre? Isso me faz perceber que, na verdade, os doentes somos nós.

Rodrigo Aylmer

Senhora

Me leva embora daqui
Cansa tanto apelo à vida
Quero poder viver sem hora

O silêncio me faz sorrir
É quando lembro de você
Senhora

Some, nos deixe com saudade, 
A sua marca registrada
Mas é que eu sei que não volta mais

Senhora, que fala a verdade
A sua lembrança eternizada
No tempo não se volta atrás

Ah, se tudo o que fosse bom
Fosse pra sempre...

Durma em paz, senhora


Rodrigo Aylmer

Talvez

Talvez, visão inalcançada
De algo que não foi, 
E não é
Talvez, que muda uma verdade
Uma mudança mudada

Talvez um beijo salvasse o amor
Talvez um sorriso mudasse a amizade
Talvez um dia a mais fizesse sorrir
Talvez que por sua vez, não foi

E não sendo, por vez cria
Um novo ser, nova tez
Por vez, é, não sendo
De modo que é tal,
E é vez

Rodrigo Aylmer

Ponto certo

O pedreiro açanhado olha para a mulher,
E começa a se entorpecer

O bêbado errado olha para o uísque,
E começa a beber

O velho inconformado olha para trás,
E começa a reviver

O homem apaixonado olha para o papel,
 para a caneta,
E começa a escrever

Rodrigo Aylmer

Os Ipês Amarelos

      No final de setembro, ameaçando ser outubro, os pássaros cantam, o sol sorri e abrange todos com seu carisma, essa história de sempre. Mas de nada é útil comentar sobre aquilo ordinário, e clichê. A questão agora são os ipês amarelos.
      Nem outubro é, e eles já estão enormes, viçosos e amarelos... Que vaidade! Difícil é você olhar para um monte e não ver ao mínimo um borrão amarelo, relevante que é. E, precoces, eles já estão vividos e amarelos.
      Mas porque eles são sempre os primeiros a se amarelarem? A tomarem cor? Devem estar inspirados, devem ser guiados pelo sol, e, por inveja, esforçaram-se para estarem parecidos com o grande astro, na época do ano em que mais esbanja seu explendor.
      Posso dizer que a unica difenrença entre o sol e os ipês amarelos é que quando anoitece, o sol morre no horizonte, junto com toda a luz que ele nos empresta.                  
      Porém à noite, essas belas e amarelas árvores, não perdem seu vigor, e sim passam a ser os grandes atros da noite, brilhando a luz que o sol levou consigo. Não há nada mais belo do que ver um ipê amarelo a noite.

Rodrigo Aylmer