terça-feira, 14 de agosto de 2012

As suas, as minhas dores

Embora a dor sentida seja grande, não é de vosso maior interesse as lástimas de um menino simples. Porém, teimo eu em dizer algumas palavras, que podem ser grandiosas, belas, ou podem ser o caminho oposto. Não tenho como dizer. Diga quem lê.
Falávamos sobre dores. E são elas (eram) grandes. Embora o leito quente, e a comida na mesa, é saber de todos que a dor tira o prazer do conforto. E a cada dia aumenta (elas, as dores). Mas não por isso minha garganta fecha, e o meu texto cessa. Digo-lhes que muito pelo contrário, a dor abre as portas da alma, e faz emanar sinceridade assim como dos olhos arrependidos brotam lágrimas de alegria. E é ela, a dor, que também sofre conosco. Afinal, é dor, e dor é dor em qualquer lugar que procurares.
Mas o espaço que fica entre a dor e a cura é o que constrange os que perguntam. Será que aprendem? Será que crescem? Mudam? Choram? Desistem? Digo que não é uma ciência exata. Questionam os leitores se me qualifico para dizer palavras sobre um tema tão individual. A verdade é que não. Mas já vivi dores fortes, que arrancaram-me lágrimas como chuva, e já vi entes sofrerem, como nunca vi antes. De mesma forma, continuo não qualificado para escrever esse texto. Porém, se ninguém o escreveu até hoje, irei escrevê-lo assim mesmo.
Como dizia, dores. São elas que movem esse mundo. Triste? Verdade. Escravidão? Tortura? Claro que move-se também pelo medo. Mas se for pensar, o medo, independente do que seja, é medo da dor. O funcionário trabalha porque tem medo de perder o emprego. Porque tem medo? Porque se perder o emprego, vai sofrer de fome, não vai ter casa, seu filho vai sentir dor de fome, de sede. O homem que tem sua mulher refém faz tudo o que o homem que a fez refém pede, porque tem medo de perder o seu amor. Ele tem medo da dor da solidão, da saudade. Então se rende como um animal aos comandos daquele que agora o possui. Quem nunca viu um filme assim? Claro que tem a virada espetacular, o final feliz, porque a maioria das pessoas (pelo menos as que eu conheço) gostam de finais felizes. Mas nem sempre acontece assim.
E aquele que já perdeu tudo? Aquele que já está na dor? O homem que perdeu tudo, não falo só de casa, família, e gêneros parecidos, mas também seus valores, sua ética, e sua direção, esse homem não tem nada a perder. Então faz atos insanos, se joga da ponte, se mata, se droga, vira ladrão, assaltante... Não são todos assim, pois é difícil encontrar uma verdade absoluta nesses dias modernos, mas os que fazem, uma boa parte, pensam que uma nova dor vai tirar a dor da dor antiga. Não entendeu? Pense assim: você furou seu dedo da mão com um espinho. Aí então você pensa:" se eu furar o meu dedo do pé com outro espinho, a dor do dedo da mão vai passar". É mais ou menos nesse ramo. Só que mal sabem que furar o outro dedo só trará mais dor.
Trazendo pro sentido real, tais indivíduos pensam que as coisas erradas que eles fazem irão tirar a tristeza e a dor que habita no corpo deles. E tem duas coisas que pioram esse processo. A primeira é que eles não sabem que essas coisas são erradas, porque perderam o seu senso, a sua bússola que indica o certo e o errado (e acontece que na maioria das pessoas essa bússola não é muito precisa). A segunda é que todo e qualquer ser humano na terra tem e sempre terá uma carência de algo maior, para completar um pedaço que falta na alma, um vácuo, uma sede que ninguém sabe explicar o por quê. Uns dizem que essa sede se mata numa fonte, o outro afirma que é naquela outra, e a verdade é que as pessoas não sabem onde procurar essa satisfação. Não posso ser hegemônico e dizer que é em tal lugar, que pra mim é, e pra muitos amigos também. Mas o assunto não é "as fontes de saciação da alma". Falávamos do homem. Voltemos a ele.
Dizia que o homem tem duas falhas. A primeira é não ter juízo para definir certo e errado. A segunda é a que eu vou chamar, mesmo sendo cliche, a " sede da alma ". Esse homem na verdade tem apenas uma escolha: não ter escolha. Parece complexo, mas é verdade. À medida que crescemos, pensamos que fazer o que quisermos é ser livre, poder ter escolha. Mas a verdade se vê concisa: quanto mais livres pensamos que somos, mas presos somos. Enquanto que ao mais " presos " ficamos, mais livres somos. E eu puz presos entre aspas porque não significa que iremos para Bangu 2, significa que temos a liberdade de dizer não. E o mais estranho é que na verdade, a liberdade, o livre arbítrio é a habilidade de dizer o não ao invés do sim. E a prisão é o nunca dizer não. Não digo isso por vida vivida, mas pelo que vejo apenas ao olhar pela janela do meu quarto.
E o leitor deve estar pensando: aonde esse maluco quer chegar falando disso tudo? A conclusão é difícil, após abrir um leque tão grande. Mas eu falo da liberdade e da prisão por causa da dor, que está sempre presente na terra em que pisamos. A "liberdade" abre você ao mundo, de peito, e você mergulha num mar de espinhos. Depois que se joga nele dói, aí você chora. Depois que chora, enfia-se com mais afinco, até seu sangue incomodar alguém e você se tocar que seu lugar não é aí, no espinho. Tem gente que gosta do veneno. Tem gente que gosta da dor. E é comum. Não goste da dor. Pois onde há dor, haverá sempre dor, e nada mais. Se desfinque da tua cruz, e larga no chão. Hoje. Agora. Larga teus problemas e chora. De preferência num ombro amigo. Porque assim como o melhor remédio para o amor é o beijo, o melhor remédio para a dor é o choro.

Rodrigo Aylmer

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A Moça da Cidade

A oportunidade é como a chuva
Que nem sempre é aproveitada
Embora caia pela terra, pura,
Na cidade vira poça
No campo vira verde,
Vida,
E a moça da cidade
Chora de saudade
Da oportunidade que não podia ser perdida,
Mas perdeu.
Se lamenta ter perdido a chance,
(A pobre moça da cidade)
De viver a vida vivida


Rodrigo Aylmer