terça-feira, 2 de agosto de 2011

Inconstância

      Minha vida tá muito louca, tio Marcos. Não consigo nem acreditar... Tenho me apoiado no alicerce da loucura, do inconstante, do inacreditável. No ''deixa a vida me levar'', sabe? E tem dado certo. Tudo de bom tem acontecido comigo: notas boas, bons amigos, paz em casa, na escola, com Deus, com tudo, sabe, tem sido assim. Nunca me senti tão, tão justificado. Acho que têm um por quê na nossa vida. E, quem sabe  eu encontrei o meu?
      É isso tio. estava tudo assim, vívido, ardente, até que um dia eu tive um sonho. Um sonho. Um sonho! E o mais louco disso tudo, é que eu sonhei acordado. Não pense, tio, que eu vou falar que encontrei uma menina que  parecia um anjo, esse papo careta, blá blá blá encontrei meu pedacinho do céu, blá blá blá anjo em minha vida, nada disso. Eu sonhei acordado. Acordado! Como isso é possível? Não entendo... E foi no meio do dia! O mais bizarro, tio, foi que eu sonhei um sonho muito louco. Sonhei que estava sonhando.
      É, sonhei um sonho. Sonhei que estava sonhando. Não posso me lembrar com o que o meu sonho sonhado tratava. Só sei que estava sonhando. Sonhando dentro do sonho. Coisa maluca, né? Um pouco medonho até. Mas isso me intrigou, tio Marcos, me deixou com a cabeça virada. Foi que eu pensei: se eu sonhei acordado que sonhava um sonho, não seria tudo isso que vivo apenas mais um sonho? Não seria a vida apenas uma ilusão do inexistente, do que é mas não é, daquilo que é pseudo? E se o meu sonho sonhado fosse uma visão da realidade, enquanto a vida, que pensamos ser, é apenas um sonho? Não sei, tio Marcos, não sei. Talvez tudo seja apenas um sonho. Um ingênuo sonho.
      Quantas dúvidas, tio! Isso entope minha mente, chega a sair fumaça. Dói. Acho que dói mais lá dentro, no fundo, do que aqui pela superfície. Poderia ser mais simples né? As coisas deveriam ser o que parecem. Seria melhor. Mas já que não são, cabe a nós, tio Marcos, pensadores da vida (ou sonho) desvendar aquilo que os olhos não vêem, mas o coração sente. Você está sentindo alguma coisa, tio? Eu só estou com curiosidade. Quero saber, tio! Ai ai, será que um dia eu vou saber? Quem sabe, quem sabe...
      Mas o que resta a nós, além de viver (ou sonhar) aquilo que o destino inventou pra nós? Esse maldito labirinto! Será isso a realidade? Que chato! Não gosto da curiosidade. Mesmo assim, é ela quem me faz seguir adiante, que me faz tentar achar respostas pra vida que é. Ou sonho. Ninguém sabe.
    Ai, tio, tá ficando tarde. O sono vem rápido. Já tô quase dormindo. Espero que, quando eu dormir, eu acorde na realidade, no mundo de verdade, sabe? Aquele que eu deveria estar... Mas então, tio, o que você acha? É realidade ou ilusão?
    -...............
      Pois é tio. As vezes me esqueço que você é imaginação. Mora na minha mente, sempre saiba disso. Tô com sono... Vou dormir. Boa noite, tio Marcos, até amanhã, ou nunca. Quem sabe eu, quando for dormir, durma para acordar, viver o real? Talvez aconteça. Ou talvez tudo, absolutamente tudo seja um sonho. E quando eu acordar exista apenas nada, que é tudo. Ou o tudo, que é nada.

Rodrigo Aylmer
      

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