segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A língua

Estranha espada sem gume
Pequena lança sem ponta
Peça que constrói e desmonta
Monte alto e sem cume

A mesma carne que cortas, costura
A mesma dor que odeias, maquina
Porque mesmo sendo amarga, és cura
E mesmo sendo torpe, és vacina

Sorte, no entanto, que não és paralela
Para que de ti dissessem uma verdade só
De tal forma que, sem valor, torna-te pó
E, com ele, torna-te bela

Sei que és muitas, verbo
Tantas faces que tens na língua
Brilha como a luz

Porém, sendo humilde servo,
Sua verdade me mingua,
E sua relutância, me seduz


Rodrigo Aylmer

Um comentário:

  1. Brilhante.
    um texto fluido e envolvente.
    Seus textos estão crescendo em profundidade e qualidade
    congrats!

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