Felipe estava intrigado. A maior dúvida de sua longa vida, de doze anos. Não sabia o que fazer, estava entrando em colapso. Resolveu perguntar pro pai:
- pai, o que que é o amor?
Pelo amor de Deus, pensou o pai, esse menino só me pergunta coisa difícil. Semana passada, quando ele me perguntou o que que era "gozo", eu quase surtei. Imagine como é dificil explicar para uma criança o que que é gozo? Quase impossível.
- pai, ta demorando pra responder...
Ah, filho, o amor é forte, algo que quando vem, nao dá pra segurar, disse o pai.
- Então quer dizer que se eu comer bem e ficar forte, quer dizer que eu vou virar amor? Que esquisito!!!
Caramba, pensou Otávio, esse menino é esperto. Desisto. Vou ser sincero.
Filho, papai vai te explicar o que é o amor. É assim: os sentimentos são nomes que damos para as reações do nosso corpo à situações do dia-a-dia... E Otávio continuou falando disso, dizendo que o amor era o mais forte dos sentimentos, que era vivo e dominava a gente. Disse também que tinham tipos de amores diferentes.
- tem o amor que papai sente por você e o amor que um dia voce vai sentir por uma menina.
Pronto. Estava quebrado. Como que o pai descobrira que estava apaixonado? Ou gostando. Ou sei lá, era uma criança não sabia dizer. Só sabia que tinha uma menina que mexia com ele, lá no fundo, onde ninguém pode chegar. Se entregou.
- ta bom pai, to cansado, vou dormir. Depois a gente fala sobre isso. Boa noite.
Não podia ter sido assim. Tem alguma coisa errada. Ele nunca fez isso antes. Fazia no mínimo dez perguntas antes de ir, e sete e meia nunca deitou. Adorava brincar de lego antes de dormir as nove e quarenta. Vou deixar passar, amanha tenho relatorio de dados para entregar, pensou Otávio. E foi.
Enquanto seu pai estava em paz, Felipe se remexia no seu quarto, todo decorado do sistema solar. Tinha até estrela que brilhava no escuro. Deitado de bruço na cama, olhando para o fundo da parede azul marinho, não parava de pensar.O que será que é? Acho que eu tô amando. Ou não, deve ser só um olhar diferente, só isso. Mas eu me sinto tão bem com ela... Deve ser. Estou amando.
Aquela conversa com o pai o deixara confuso. Aliás, sempre o deixava confuso. Aquela vez que perguntara o que era "gozo" e o pai falou que era sinônimo de desfrutar, como alegria, não tinha nada a ver com o que tinham dito a ele. Mas não importava. Só sabia que no dia seguinte ainda tinha aula, e de educação física. Ia chamá-la para dançar no arraiá. Estava decidido. E estava confuso. Não podia dizer se era amor. Pensou num canto distante da mente em lhe roubar um beijo na bochecha, mas logo esqueceu a idéia ridícula. Não pensava mais nada. Só queria dormir, porque tinha a certeza que ia vê-la na manha seguinte. E queria que a manhã seguinte durasse eternamente
Rodrigo Aylmer
Muito bom! Pode escrever um livro hein! haha
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